Concordia do Livre Arbítrio - Parte VII 16
Parte VII - Sobre a predestinação e a reprovação
Seção XIII: Epílogo no qual se explica com maior clareza a opinião do autor
24. Ninguém me acusará por ter respondido a algumas objeções que, com razão, poderia ter deixado passar em silêncio e por ter insistido demais em algumas coisas; pois a questão sobre a qual estamos discutindo é de tal forma profunda, controversa e de conhecimento tão necessário que isso facilmente poderá ser perdoado, especialmente porque, às vezes, ao adicionar uma única palavra, em questões tão difíceis, pode-se oferecer uma explicação que, mesmo após ler todas aquelas coisas nas quais outros encontram luz abundante, ainda permanece nas trevas. Essa razão também me levou a adicionar o seguinte epílogo sobre esta questão.
1. Para resumir quase em forma de epílogo o que dissemos até aqui, vamos oferecer nossa opinião em poucas e eloquentes palavras. Pensamos que ─como acontece na realidade─, antes de qualquer ato livre de sua vontade, Deus Ótimo Máximo prevê em sua própria essência, por ciência puramente natural e ciência média ─que se encontra entre a ciência livre e a puramente natural─, absolutamente todas as coisas que estão em seu poder, entre as quais se encontram as infinitas criaturas dotadas de entendimento que pode criar, assim como também os infinitos ordens de coisas, de auxílios e de circunstâncias ─não só aqueles ordens nos quais poderia colocar várias dessas criaturas, mas também aqueles nos quais colocou as únicas que de fato decidiu criar─; também prevê o que aconteceria em todos esses ordens em razão do arbítrio de cada uma das criaturas dotadas de entendimento, dada a hipótese de que Ele decidisse criar um ou outro ordem, com uns ou outros auxílios e com umas ou outras circunstâncias.
2. Em seguida, uma vez conhecidas todas essas ordens, em virtude de seu juízo insondável e de sua sabedoria, e por meio de um ato único e simples de sua vontade, Ele decidiu simultaneamente toda a ordem — tanto dos homens e dos anjos, como das demais coisas — que rege desde o início da criação e que persistirá até o fim do mundo, com os auxílios e os dons que decidiu conceder tanto aos anjos quanto aos homens, com o objetivo de que, no poder de todos aqueles que Ele colocou nesta ordem, esteja alcançar a vida eterna livremente ou desviar-se dela em direção à miséria eterna; portanto, nesta ordem de coisas e em razão de seu livre-arbítrio, poderão alterar aquelas circunstâncias cuja variação foi colocada sob o poder de seu livre-arbítrio.
3. Por meio deste ato da vontade divina e por meio da eleição de toda esta ordem ─e não de outra─ de coisas e de auxílios, tal como procede de Deus, foram predestinados, por um lado, os anjos e os homens adultos que, segundo Deus previa, em virtude da liberdade de seu arbítrio acabariam em graça ─seja com auxílios e ocasiões de salvação maiores, seja com auxílios e ocasiões de salvação menores─ o final do caminho que lhes foi prescrito e, por outro lado, as crianças que, segundo Deus previa, morreriam nesta ordem tendo recebido o remédio contra o pecado original e, consequentemente, estando na graça recebida pelos méritos de Cristo. Por outro lado, aos demais homens e anjos que, segundo previa, nesta mesma ordem de coisas morreriam em pecado mortal ─seja em razão de sua própria liberdade, seja em razão da liberdade de seu primeiro pai─, não os teria predestinado por meio deste ato de sua vontade e da eleição desta ordem de coisas, embora por meio deste mesmo ato lhes teria provido a todos eles de meios suficientes através dos quais alcançariam a vida eterna, se isso não dependesse deles ou do primeiro pai; mais ainda, ao decidir conferir a alguns deles auxílios mais abundantes e melhores que os concedidos a muitos predestinados, teria para com eles uma providência melhor com vistas à consecução da vida eterna e, consequentemente, teria que atribuir-lhes uma culpa maior quando a perdem.
4. Que Deus tenha escolhido uma ordem de coisas, de circunstâncias e de auxílios, na qual apenas alguns em particular foram realmente predestinados ─sem que todos os outros o tenham sido─, em vez de escolher qualquer outra entre as infinitas ordens nas quais, segundo prevê, teria acontecido algo muito diferente e, consequentemente, que ao escolher esta ordem tenha querido conferir a alguns em particular ─tanto se foram colocados na melhor parte desta ordem com vistas à salvação, como se foram postos em uma parte pior─ os auxílios, maiores ou menores, graças aos quais, segundo prevê, estes homens alcançarão a bem-aventurança ─enquanto que aos outros, tanto se foram colocados na melhor parte desta ordem com vistas à salvação, como se foram postos em uma parte pior, com auxílios maiores ou menores, tenha querido conceder-lhes apenas alguns auxílios apesar dos quais, embora poderiam ter alcançado a vida eterna e muitos deles com mais facilidade do que muitos dos predestinados, no entanto, segundo prevê, em razão de sua liberdade ou da liberdade do primeiro pai, terminarão sua vida em pecado mortal e dentro do grupo dos réprobos─, certamente, não se deve aos predestinados, nem aos não predestinados, porque neles não podemos encontrar uma causa ou razão que os tenha distinguido e os tenha feito desiguais; sem dúvida, tudo isso só deve ser atribuído à vontade livre de Deus, porque é Ele quem, provendo a todos de maneira suficiente e a alguns réprobos de maneira mais abundante do que a muitos dos predestinados, quis escolher esta ordem de coisas antes que outra e é Ele quem quis distribuir seus dons deste modo antes que de outro.
Mas quem se perguntar por qual razão Deus —prevendo que uma multidão tão grande de homens e de anjos se condenaria em razão de sua própria liberdade ou da do primeiro pai— decide agir assim, deverá exclamar com São Paulo: «Oh profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Quão insondáveis são seus juízos e inescrutáveis seus caminhos!».
Considerada sob essa perspectiva, com razão se diz nas Sagradas Escrituras que a predestinação dos homens ocorre de acordo com o propósito e a escolha livre de Deus, que escolhe aqueles que deseja para predestiná-los e não a outros da maneira mencionada; também se pode considerar com razão que aqueles que foram eleitos e predestinados assim, foram chamados e predestinados de maneira quase casual.
5. No entanto, sustentamos que, ao escolher Deus desde a eternidade esta ordem de coisas antes de outra, a razão ou condição da qual depende, por um lado, que alguns adultos e não outros sejam predestinados em virtude da providência e da escolha desta ordem e, por outro lado, que esta escolha e esta providência sejam consideradas uma predestinação em relação aos primeiros e não aos segundos, dependerá do seguinte, a saber: que, podendo uns e outros —nesta mesma ordem de coisas— fazer de seu livre arbítrio um uso tal que terminem sua vida em graça e alcancem a bem-aventurança, no entanto, serão os primeiros e não os segundos que agirão desta maneira, e Deus, em virtude da altura de seu entendimento, terá presciência disto mesmo, além do que exigem a liberdade do arbítrio e a própria contingência das coisas. Pois se —como realmente pode acontecer— isto não ocorresse assim, a mesma escolha desta ordem deveria ser considerada uma providência com vistas à bem-aventurança e não uma predestinação em relação àqueles adultos cuja predestinação já se produziu.
6. Portanto, se supormos que é impossível que Deus, ao escolher esta ordem de coisas e de auxílios, tenha uma ciência natural plena no grau máximo, pela qual conheceria de maneira perfeita as naturezas de todas as coisas, suas uniões necessárias — incluindo aquelas que são tais em virtude da disposição das causas, com uma necessidade fatal — e as relações dos meios com os fins, e pela qual também saberia prover perfeitamente a todas as coisas — incluindo as dotadas de livre arbítrio — dos meios ajustados aos fins, tanto naturais como sobrenaturais, segundo a natureza de cada uma delas, e além disso supormos que Ele não tem essa ciência média — que se encontra entre a livre e a puramente natural — através da qual, em virtude da altivez de seu entendimento, conheceria perfeitamente a determinação do livre arbítrio criado e, consequentemente, as uniões contingentes que dependem dele, então a escolha desta ordem deverá ser considerada providência com vistas à beatitude em relação a todas as criaturas racionais; agora bem, do mesmo modo que então Deus não saberia quais delas, nesta ordem de coisas, haveriam de alcançar a vida eterna em razão da liberdade de seu arbítrio — pois para Deus isso seria tão incerto quanto o é em si mesmo —, tampouco a escolha e a providência seriam consideradas, com respeito a nenhuma criatura, predestinação, porque esta inclui em si mesma uma certeza de alcançar a beatitude proveniente da certeza da presciência divina. Por isso, do mesmo modo que o plano da predestinação de qualquer adulto depende da presciência pela qual Deus prevê que este alcançará a beatitude através de uns meios determinados — sendo esta presciência o que a predestinação acrescenta à providência —, assim também, toda a certeza de que o predestinado vai alcançar a vida eterna, depende desta mesma presciência e só deve ser atribuída a ela e não à escolha da ordem de coisas, nem à providência divina dirigida com vistas à beatitude dos homens e dos anjos.
7. Por tudo isso, é fácil entender como se pode conciliar a liberdade do nosso arbítrio e dos anjos com a predestinação divina; além disso, qualquer anjo teria possuído em seu momento a mesma liberdade que qualquer homem adulto possui agora para alcançar ou não a vida eterna, exatamente da mesma forma que se a escolha da ordem das coisas que desde a eternidade Deus escolheu, não fosse considerada predestinação.
De fato, se da eleição desta ordem excluirmos a presciência pela qual Deus sabe como os homens e os anjos vão agir através de seu livre arbítrio em toda esta ordem, e apenas deixarmos espaço para uma presciência puramente natural e necessária para escolher esta ordem e prover as coisas de maneira ajustada aos seus fins e, consequentemente, excluirmos desta eleição o plano da predestinação e apenas deixarmos esta dentro dos limites de uma providência divina com vistas à beatitude, então será muito fácil entender que a liberdade do nosso arbítrio e dos anjos pode ser muito bem conciliada com ela, porque na mesma medida em que qualquer um de nós tem liberdade para alcançar ou não a beatitude e na mesma medida em que é incerto qual dessas duas coisas vai acontecer considerada apenas a liberdade do nosso arbítrio, assim também, para Deus será incerto que, em razão da liberdade do nosso arbítrio, vamos cooperar com os meios de sua providência de tal modo que alcancemos a beatitude ou não.
Portanto, já que não acontece que cooperemos de uma forma ou de outra e alcancemos ou não a vida eterna porque Deus assim o previu, mas acontece o contrário — ou seja, como isso ocorre em razão da liberdade de nosso arbítrio, por isso, Deus o prevê em virtude da altura de seu entendimento, podendo prever o contrário, se é isso que, como é possível, fosse acontecer —, por isso, a presciência que a predestinação acrescenta à escolha da ordem das coisas e à providência divina não nos tira a liberdade, mas respeita nossa liberdade para agir de uma forma ou de outra e para alcançar a beatitude ou nos desviarmos dela, exatamente da mesma forma que se Deus exercesse apenas uma providência e não uma predestinação. Pois, embora não seja possível conciliar que, por um lado, sejamos predestinados e, por outro, não alcancemos a vida eterna, ou que, por um lado, Deus preveja que vamos cooperar de tal forma que alcancemos a vida eterna e, por outro, não cooperemos assim, e, por isso, em sentido composto não pode acontecer de forma alguma que alguém que foi predestinado não alcance a vida eterna, no entanto, já que, se não fôssemos cooperar de tal forma que alcançássemos a vida eterna — sendo isso possível —, em Deus não se daria essa predestinação e essa presciência, por isso, em sentido dividido teríamos tanta liberdade que poderia acontecer que alguém que foi predestinado não alcançasse a beatitude, exatamente como se não o tivesse sido.
8. Mas não cremos que Deus predestine como se ─dentre aqueles que decidiu criar─, previamente e sem considerar o livre-arbítrio de cada um, decidisse predestinar e conduzir à vida eterna apenas alguns em particular e não outros ─pois a estes decidiria reprovar por causa dos pecados que, como já sabe, cometerão por não terem sido predestinados─, decidindo agir assim pela seguinte razão, a saber, para ter simultaneamente em quem manifestar para sempre tanto a sua misericórdia e generosidade, quanto a sua justiça vindicativa, de tal modo que executasse o decreto da sua vontade como se estivesse à espreita do livre-arbítrio, tanto daqueles que pretende predestinar, quanto daqueles que pretende deixar no grupo dos réprobos, buscando para os primeiros as circunstâncias, os meios e os modos pelos quais alcancem a vida eterna em qualquer caso, e subtraindo deliberadamente dos últimos os auxílios ─embora sempre lhes deixando os necessários─ e buscando para eles modos e circunstâncias tais que, finalmente, se condenem a tormentos eternos, excluídos do reino dos céus.
Da mesma forma, também não acreditamos que o bom uso do livre arbítrio, que se move na direção que conduz à salvação, dependa apenas da predestinação e de seus efeitos, como se o predestinado não pudesse inclinar seu arbítrio na direção oposta —exatamente da mesma forma que se não tivesse sido predestinado— e como se o réprobo não pudesse fazer de seu arbítrio um uso tal que alcançasse a vida eterna, exatamente como se tivesse sido predestinado; consideramos que isso é um erro evidente em matéria de fé. Também consideramos que tudo isso é indigno da majestade e da bondade divinas e tornaria desculpável o curso da vida dos réprobos; tampouco concorda com as Sagradas Escrituras, como já indicamos anteriormente, e oferece à Igreja a oportunidade de cair em muitos erros.
9. Pensamos o seguinte: Prevendo absolutamente todas as coisas que vão acontecer, Deus escolhe simultaneamente — em virtude de sua sabedoria, bondade e justiça —, com um único ato eletivo, toda esta ordem de coisas que começou na criação e que se estenderá até a consumação do mundo, exatamente como se — carecendo de uma presciência sobre as coisas que aconteceriam por meio do livre arbítrio — tivesse escolhido esta ordem por partes, em função de como cada coisa acontecesse no decorrer do tempo. Por isso, cremos que desde a eternidade Deus decidiu criar os anjos e os homens com vistas à sua beatitude e que, em um momento determinado do tempo, os criou em estado de inocência com enorme desejo e sinceridade, como se não tivesse previsto a queda e a perdição de alguns anjos e dos primeiros pais. Disto dão testemunho os dons e auxílios abundantíssimos e excelentíssimos com os quais criou a todos e de que proveu cada um, com o objetivo de que todos alcancem a vida eterna com suma facilidade e em virtude do arbítrio e dos méritos próprios. Isto concorda com a verdade e bondade divinas e é o que as Sagradas Escrituras expressam de maneira claríssima.
Mas não pensamos que, desde a eternidade, Deus tenha buscado a perdição dos anjos e dos homens — para ter a quem castigar com justiça —, nem que nela tenha se deleitado, mas, ao contrário, isso teria ocorrido contra sua própria intenção e contra seu próprio desejo, pois, da mesma forma que Ele queria o contrário, assim também, se não dependesse deles, teria feito o contrário. Porém, tendo decidido criá-los de tal maneira que, para maior glória deles, alcançassem a beatitude por meio de sua própria liberdade e de seus méritos, com sua providência quis permitir os pecados que tanto os anjos quanto os homens — criados com liberdade para sua própria glória — quisessem cometer, assim como também — por sua sabedoria, justiça, bondade e misericórdia — realizar bens maiores, castigando eternamente alguns pecadores, para que neles brilhasse sua justiça vindicativa, mas compadecendo-se de outros e ajudando-os de maneira admirável por meio de seu Filho, sem prejuízo da equidade e do rigor de sua justiça vindicativa.
10. Portanto, acreditamos que Deus, prevendo em Sua eternidade que, dada a hipótese de que Ele quisesse criar os anjos e os homens em estado de inocência, alguns anjos e a totalidade do gênero humano cairiam na perdição, desde a eternidade teria escolhido, movido por Sua bondade e misericórdia infinitas, ao mesmo tempo, junto com essa parte da ordem das coisas vigente desde a criação até a queda dos primeiros pais, o restabelecimento do gênero humano pela vinda e pelos méritos de Cristo e a ordem restante e vigente até a consumação do mundo, exatamente como se, ignorando o futuro, tivesse escolhido a mesma reparação do gênero humano após a queda dos primeiros pais. Mas, como os demais pecados do gênero humano se seguiram, como de uma raiz, da queda dos primeiros pais, por isso, da mesma forma que essa queda não se deveu à intenção, nem à vontade de Deus, tampouco os pecados e a perdição dos demais homens, que ocorrem na ordem posterior à queda dos primeiros pais, correspondem à intenção, nem à vontade de Deus, mas, ao contrário, ocorrem contra o Seu próprio desejo.
No entanto, como é um mal tão grande ter ofendido a majestade e a bondade infinitas de Deus, e era conveniente que, por causa dos melhores fins ─dos quais, em parte, já falamos─, o gênero humano não recuperasse nesta vida, por meio de Cristo, o estado de felicidade do qual caiu ─mas permanecesse sujeito às misérias da alma e do corpo que experimentamos, para que assim a gravidade daquele pecado brilhasse em seus efeitos e castigos, ou para outros fins excelentes─, por isso, daqui se segue que, embora desde a eternidade Deus tenha decidido a reparação do gênero humano por meio de seu Filho feito homem ─tendo querido que este benefício seja comum a todos os mortais─, no entanto, em virtude de sua sabedoria e de seu juízo insondável, teria decidido: que Cristo não viesse ao mundo em outro momento, nem de outro modo; que o anúncio de sua vinda ─para que os homens alcancem pela fé o fruto da redenção─ não se refletisse na lei natural, na lei escrita e na lei da graça de modo diferente do que ocorreu; e que todo o desenvolvimento da Igreja militante fosse confiado ao arbítrio dos homens e ao estado do mundo, inovando com muita frequência a vocação à fé e o anúncio da vinda de Cristo em função dos diferentes momentos do mundo, assim como também levando e proporcionando ─misericordiosamente─ ajuda à sua Igreja de diferentes maneiras.
11. Assim, afirmamos o seguinte: Através da escolha de toda a ordem de coisas vigente até a consumação do mundo, Deus desejou a salvação de todos, na medida em que depende dEle. Mas também decidiu que, já nesta ordem de coisas, qualquer adulto tenha a possibilidade de estender livremente sua mão para o que quiser e, consequentemente, alcance a beatitude ou se afunde na miséria, conforme preferir, como se Deus não tivesse presciência sobre as coisas que ocorrerão por meio do livre arbítrio ou sobre quem, nesta ordem de coisas, alcançará a vida eterna, ou seja, como se Deus não predestinasse, mas apenas exercesse uma providência pela qual, desde a eternidade, decidiu prover aos homens com vistas à sua beatitude da mesma forma que, após conhecer o resultado de algumas coisas, decidiria o mesmo em um determinado momento no tempo; por conseguinte, após sua predestinação, os adultos possuiriam a mesma liberdade — para estender sua mão para o que quiserem e, por isso, alcançar a beatitude ou afundar-se na miséria — que se Deus não tivesse realizado anteriormente nenhuma predestinação, de tal modo que a salvação de qualquer um seria para Deus tão incerta quanto o é em si mesma.
12. Portanto, nossa opinião pode ser resumida na seguinte conclusão: A causa ou razão pela qual Deus escolheu esta ordem de auxílios e de coisas — na qual, conforme previa, alcançariam a vida eterna tanto alguns adultos em razão da liberdade de seu arbítrio, quanto algumas crianças desprovidas de liberdade de arbítrio, mas não todos os demais — em vez de escolher qualquer outra — na qual não aconteceria o mesmo — e, consequentemente, a causa ou razão pela qual, com a escolha desta ordem em vez de outra, predestinou uns antes que outros, não está nos predestinados, mas tudo isso deve ser atribuído à vontade livre de Deus.
A razão ou condição — atribuível aos adultos — da qual depende que a escolha desta ordem seja considerada predestinação em relação a alguns adultos e não a outros, é a seguinte, a saber: que, em razão de sua liberdade inata, alguns e não outros cooperem por meio de seu livre-arbítrio de tal maneira que alcancem a graça no final de suas vidas, e que Deus preveja isso em virtude da altura de seu entendimento.
Embora Deus não estivesse obrigado a escolher uma ordem em vez de outra pelo uso previsto do livre-arbítrio, no entanto, em muitas das coisas que Ele estabelece, pode levá-lo em consideração e até mesmo é conveniente; mais ainda, de fato Ele o leva em consideração, como explicamos no item 11, antes de apresentar a conclusão final.