Sabedoria 10

O primeiro homem, o pai do mundo, que foi criado sozinho, foi a sabedoria que cuidou dele, tirou-o de seu próprio pecado,
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Refere-se a Adão, o primeiro homem criado por Deus (gn2:7). A 'queda' alude ao pecado original em gn3:1-24. O texto atribui à Sabedoria um papel ativo na redenção, interpretação que seria desenvolvida na teologia cristã sobre Cristo como 'Sabedoria de Deus' (1co1:24).
e deu-lhe o poder de reinar sobre todas as coisas.
E porque o perverso, na sua ira, dela se afastou, pereceu depois de seu furor fratricida.
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Menção clara a Caim, que matou seu irmão Abel (gn4:8). A expressão 'ira fratricida' reforça a tradição judaica que via Caim como arquétipo da violência humana.
E estando a terra submersa por causa dele pelo dilúvio, a sabedoria de novo o salvou, conduzindo o justo num lenho sem valor.
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Referência ao Dilúvio e Noé (gn6:9-9:17). A 'frágil embarcação' contrasta com a descrição bíblica da arca como estrutura grande, mostrando ênfase na proteção divina sobre a engenhosidade humana.
E quando as nações unânimes caíram no mal, foi ela que distinguiu o justo, o manteve irrepreensível diante de Deus, e lhe deu a força para vencer sua ternura pelo seu filho.
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Possível alusão a Abraão e o sacrifício de Isaque (gn22:1-19). A 'ternura pelo filho' pode referir-se à prova de fé, embora alguns estudiosos vejam aqui uma referência a Ló (gn19:16-22).
Foi ela que, quando do aniquilamento dos ímpios, salvou o justo, subtraindo-o ao fogo que descera sobre a Pentápole,
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Clara referência a Ló sendo salvo da destruição de Sodoma e Gomorra (gn19:24-25). A menção de 'cinco cidades' segue tradições judaicas que incluíam Zoar, Admá e Zeboim (gn14:2, os5:1).
cuja perversidade ainda no presente é testemunhada por uma terra fumegante e deserta, onde as árvores carregam frutos incapazes de amadurecer, e onde está erigida uma coluna de sal, memorial de uma alma incrédula.
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A 'estátua de sal' é Ló (gn19:26). A descrição geográfica coincide com achados arqueológicos na região do Mar Morto, onde altos níveis de sal e atividade tectônica explicam a paisagem desolada.
Porque aqueles que desprezaram a sabedoria, não somente se prejudicaram em ignorar o bem, mas ainda deixaram aos homens um testemunho de sua loucura, para que seus pecados não fossem esquecidos.
Quanto aos que a honram, a sabedoria os liberta de sofrimentos;
foi ela que guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o Reino de Deus, e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos, e fez frutificar seus esforços;
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Refere-se a Jacó fugindo de Esaú (gn27:41-45). O 'reino de Deus' é anacrônico para o contexto patriarcal, sugerindo uma interpretação posterior que associa a jornada dos patriarcas à promessa messiânica.
cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas;
ela o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e, no duro combate, deu-lhe vitória, a fim de que ele soubesse quanto a piedade é mais forte que tudo.
Ela não abandonou o justo vendido, mas preservou-o do pecado.
Desceu com ele à prisão, e não o abandonou nas suas cadeias, até que lhe trouxe o cetro do reino e o poder sobre os que o tinham oprimido; revelou-lhe a mentira de seus acusadores, e conferiu-lhe uma glória eterna.
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História de José vendido como escravo (gn37:28), preso (gn39:20) e elevado ao poder no Egito (gn41:41). A versão da Sabedoria omite o papel de Deus na narrativa original, atribuindo tudo à personificação da Sabedoria.
Foi ela que livrou das nações que tiranizavam o povo santo e a raça irrepreensível;
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Êxodo do Egito (ex12:37-14:31). A descrição de 'nação de opressores' condiz com registros históricos sobre o domínio egípcio no século XIII a.C., embora não haja evidência direta da escravidão hebraica em fontes extrabíblicas.
entrou na alma do servo de Deus, e se opôs, com sinais e prodígios, a reis temíveis.
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Referência a Moisés enfrentando o Faraó (ex7:8-12:32). Os 'prodígios e sinais' aludem às pragas do Egito, narradas como confronto entre a sabedoria divina e o poder político.
Deu aos santos o galardão de seus trabalhos, conduziu-os por um caminho miraculoso; durante o dia serviu-lhes de proteção, e deu-lhes a luz dos astros durante a noite.
Fê-los atravessar o mar Vermelho, e deu-lhes passagem através da massa das águas,
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Traversia do Mar Vermelho (ex14:21-28). A descrição de 'águas impetuosas' difere do relato do Êxodo que menciona vento forte (ex14:21), mostrando variação na tradição oral.
ao passo que engoliu seus inimigos, e depois os tirou das profundezas do abismo.
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Afogamento do exército egípcio (ex14:27-28). O verbo 'vomitar' (em grego: ἐξέμεσεν) é único na Bíblia, possivelmente influenciado por mitologias do Oriente Médio que descreviam o mar como monstro devorador.
Também os justos, depois de despojados os ímpios, celebraram, Senhor, vosso santo nome, e louvaram, unidos num só coração, vossa mão protetora,
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Cântico de Moisés após a travessia (ex15:1-21). O 'braço protetor' remete à expressão hebraica 'mão forte' usada no Êxodo (ex13:9).
porque a sabedoria abriu a boca aos mudos, e tornou eloquente a língua das crianças.
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Possível alusão à cura de mudos nos evangelhos (mt9:32-33, lc11:14). Essa conexão foi usada pelos Padres da Igreja para ligar a Sabedoria ao Cristo encarnado.