Sabedoria 1

Amai a justiça, vós que governais a terra, tende para com o Senhor sentimentos perfeitos, e procurai-o na simplicidade do coração,
porque ele é encontrado pelos que não o tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança;
com efeito, os pensamentos tortuosos afastam de Deus, e o seu poder, posto à prova, triunfa dos insensatos.
A sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará no corpo sujeito ao pecado;
o Espírito Santo educador das almas fugirá da perfídia, se afastará dos pensamentos insensatos, e a iniquidade que sobrevém o repelirá.
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A menção ao 'espírito santo' aqui não se refere à Trindade cristã, mas ao sopro divino que sustenta a vida (conceito comum no Antigo Testamento). O livro de Sabedoria, sendo deuterocanônico, reflete teologias judaicas do período helenístico.
Sim, a sabedoria é um espírito que ama os homens, mas não deixará sem castigo o blasfemador pelo crime de seus lábios, porque Deus lhe sonda os rins, penetra até o fundo de seu coração, e ouve as suas palavras.
Com efeito, o Espírito do Senhor enche o universo, e ele, que tem unidas todas as coisas, ouve toda voz.
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A ideia de que o espírito divino 'enche o universo' ecoa Sl 139:7-8 e Jr 23:24, mostrando uma teologia de onipresença divina desenvolvida no judaísmo tardio.
Aquele que profere uma linguagem iníqua, não pode fugir dele, e a justiça vingadora não o deixará escapar;
pois os próprios desígnios do ímpio serão cuidadosamente examinados; o som de suas palavras chegará até o Senhor, que lhe imporá o castigo pelos seus pecados.
É, com efeito, um ouvido cioso, que tudo ouve: nem a menor murmuração lhe passa despercebida.
Acautelai-vos, pois, de queixar-vos inutilmente, evitai que vossa língua se entregue à crítica, porque até mesmo uma palavra secreta não ficará sem castigo, e a boca que acusa com injustiça arrasta a alma à morte.
Não procureis a morte por uma vida desregrada, não sejais o próprio artífice de vossa perda.
Deus não é o autor da morte, a perdição dos vivos não lhe dá alegria alguma.
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A afirmação de que 'Deus não fez a morte' parece contradizer Gn 3, onde a morte entra no mundo pelo pecado. A contradição é aparente: o autor enfatiza que a morte espiritual é consequência do pecado humano, não da vontade divina.
Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a salvação. Nelas nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra,
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A declaração 'criou tudo para a existência' alinha-se com Gn 1:31, onde Deus vê sua criação como 'muito boa'. Reflete a crença na bondade fundamental da criação.
porque a justiça é imortal.
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A imortalidade da justiça reflete influência da filosofia grega (especialmente platônica), comum no judaísmo helenístico. Isso reforça a tese acadêmica de que o livro foi escrito no século I a.C., não por Salomão.
Mas a morte os ímpios a chamam com o gesto e a voz. Crendo-a amiga, consomem-se de desejos, e fazem aliança com ela; de fato, eles merecem ser sua presa.
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A personificação da morte como aliada dos ímpios encontra paralelo em Tg 1:15, onde o pecado 'gera a morte'. A imagem reflete a teologia judaica do período do Segundo Templo.