Jó 1

Na terra de Uz, havia um homem chamado Jó. Ele era íntegro e justo, temia a Deus e rejeitava o que era mau.
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A terra de Uz é mencionada aqui, mas sua localização exata é incerta. Alguns estudiosos associam-na a Edom (sul da Jordânia), outros a Aram (Síria). Essa ambiguidade histórica gera debates sobre o contexto geográfico do livro.
Ele se tornou pai de sete filhos e três filhas.
Seus rebanhos eram de 7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 1.000 bois e 500 jumentas; ele também tinha um grande número de servos. Assim, ele se tornou o maior de todos os orientais.
Seus filhos costumavam realizar um banquete, cada um em sua própria casa, no seu dia designado, e convidavam suas três irmãs para comer e beber com eles.
Depois que terminava o ciclo dos dias de banquete, Jó os chamava para santificá-los. Então ele se levantava de manhã cedo e oferecia sacrifícios queimados em favor de cada um deles, pois Jó dizia: “Talvez meus filhos tenham pecado e amaldiçoado a Deus no coração.” Jó sempre fazia assim.
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Jó oferece holocaustos como sacerdote da família, uma prática comum antes da Lei Mosaica (como em Gn 8:20). A preocupação com possíveis pecados 'no coração' reflete a crença antiga de que pensamentos ocultos poderiam ofender a Deus.
Chegou o dia em que os filhos do verdadeiro Deus foram apresentar-se perante Jeová, e Satanás também foi no meio deles.
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'Filhos de Deus' geralmente se refere a anjos (Jó 38:7; Dn 3:25). Satanás (em hebraico 'ha-satan' = 'o acusador') aqui age como fiscal divino, não como o diabo cristão. Essa visão pré-cristã do mal gera debates teológicos.
Então Jeová perguntou a Satanás: “De onde você veio?” Satanás respondeu a Jeová: “De percorrer a terra e de andar por ela.”
E Jeová disse a Satanás: “Você observou o meu servo Jó? Não há ninguém igual a ele na terra. Ele é um homem íntegro e justo, que teme a Deus e rejeita o que é mau.”
Então Satanás respondeu a Jeová: “Será que é por nada que Jó teme a Deus?
Não puseste uma cerca de proteção em volta dele, da sua casa e de tudo o que ele tem? Tu abençoaste o trabalho das suas mãos, e os rebanhos dele se espalham pela terra.
Mas agora, levanta a mão e atinge tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua própria face.”
Então Jeová disse a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele tem está nas suas mãos. Mas não estenda a mão contra ele mesmo!” De modo que Satanás se retirou da presença de Jeová.
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Deus permite o sofrimento de Jó, levantando questões sobre a teodiceia (justiça divina). Essa passagem é controversa por sugerir que Deus usa o mal para testar fiéis – tema central do livro.
Então, no dia em que os filhos e as filhas de Jó estavam comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho,
chegou um mensageiro e disse a Jó: “Os bois estavam arando, e as jumentas estavam pastando ao lado deles,
quando os sabeus atacaram e os levaram embora; eles também mataram os servos à espada. Eu fui o único que escapou para lhe contar isso.”
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Os sabeus eram um povo do sudoeste da Arábia (atual Iêmen), conhecidos por comércio e ataques esporádicos. Arqueologia confirma sua existência desde o século VIII a.C., corroborando o contexto histórico.
Enquanto ele ainda estava falando, chegou outro e disse: “Caiu dos céus um fogo da parte de Deus e queimou as ovelhas e os servos, consumindo-os. Eu fui o único que escapou para lhe contar isso.”
Enquanto esse ainda estava falando, chegou outro e disse: “Os caldeus formaram três bandos, atacaram os camelos e os levaram embora; eles também mataram os servos à espada. Eu fui o único que escapou para lhe contar isso.”
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Os caldeus, originalmente tribos arameias, tornaram-se parte do Império Neobabilônico (século VII a.C.). Sua menção aqui pode indicar uma datação posterior do livro ou atualização de termos pelo copista.
Enquanto este ainda estava falando, chegou mais um e disse: “Seus filhos e suas filhas estavam comendo e bebendo vinho na casa do irmão mais velho.
De repente, veio um forte vento do deserto e atingiu os quatro cantos da casa, de modo que ela caiu sobre os jovens e eles morreram. Eu fui o único que escapou para lhe contar isso.”
Então Jó se levantou, rasgou as suas roupas e raspou a cabeça; depois se lançou no chão e, curvando-se,
disse: “Nu saí do ventre da minha mãe, E nu voltarei. Jeová deu, e Jeová tirou. Que o nome de Jeová continue a ser louvado.”
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A frase de Jó 'nu saí... nu tornarei' ecoa em Eclesiastes 5:15 e 1Tm 6:7. A aceitação da soberania divina, mesmo no sofrimento, é considerada uma profecia indireta da ressurreição por alguns intérpretes cristãos.
Em tudo isso, Jó não pecou nem acusou Deus de fazer algo errado.
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A declaração de que Jó 'não pecou' parece contradizer suas reclamações posteriores. Isso levou à teoria de que o prólogo (caps 1-2) foi escrito separadamente do diálogo central, possivelmente por outro autor.