Jó 13

3 “Sim, meus olhos viram tudo isso, Meus ouvidos ouviram e entenderam.
O que vocês sabem, eu também sei; Não sou inferior a vocês.
No entanto, eu prefiro falar com o próprio Todo-Poderoso; Desejo defender minha causa perante Deus.
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Jó desafia o convencional ao buscar confrontar Deus diretamente, algo raro na literatura bíblica. Isso reflete uma tensão entre submissão e questionamento da justiça divina, tema central no livro.
Mas vocês me difamam com mentiras; Todos vocês são médicos que nada valem.
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A acusação de 'médicos que não valem nada' ironiza a falha dos amigos em consolar. Na cultura da época, conselheiros deveriam ajudar, mas aqui agravam o sofrimento de Jó com teologia simplista de retribuição (sofrimento = castigo).
Quem dera que ficassem calados, Isso seria sabedoria da sua parte.
Por favor, escutem meus argumentos, E prestem atenção à defesa dos meus lábios.
Será que vocês falarão injustamente a favor de Deus, E falarão falsidades em benefício dele?
Vocês tomarão o lado dele, Tentarão defender a causa do verdadeiro Deus?
O que seria de vocês se ele os examinasse? Será que o enganariam, assim como fariam com um homem mortal?
Com certeza ele os repreenderá, Se tentarem secretamente mostrar favoritismo.
Será que a glória dele não os amedrontará, E o pavor dele não virá sobre vocês?
Suas declarações sábias são provérbios de cinzas; Suas defesas são tão frágeis como barro.
Calem-se, para que eu fale, Então aconteça comigo o que acontecer!
Por que me coloco em perigo E ponho minha vida em minhas mãos?
Embora ele possa me matar, eu ainda esperarei; Defenderei minha causa perante ele.
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A tradução 'nele esperarei' é debatida. O hebraico permite ler como pergunta: 'Devo esperar?'. Alguns manuscritos gregos (LXX) sugerem dúvida, não certeza. A versão afirmativa tornou-se tradicional, mas a ambigüidade revela a complexidade da fé de Jó.
Então ele se tornará minha salvação, Pois nenhum ímpio pode comparecer perante ele.
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A 'salvação' aqui é interpretada diversamente: 1) Justificação divina imediata; 2) Prefiguração messiânica (Cristo como salvador); 3) Esperança escatológica. A rejeição do hipócrita reforça a ideia de integridade como requisito para o diálogo com Deus.
Escutem atentamente a minha palavra; Prestem atenção à minha declaração.
Vejam, eu me preparei para defender minha causa; Sei que tenho razão.
Quem discutirá comigo? Eu morreria se ficasse calado!
Apenas conceda-me duas coisas, ó Deus, Para que eu não me esconda de ti:
Afasta a tua mão pesada de mim, E que o medo de ti não me apavore.
Chama, e eu responderei, Ou deixa-me falar, e responde-me.
Quais são os meus erros e pecados? Mostra-me a minha transgressão e o meu pecado.
Por que escondes a tua face E me consideras teu inimigo?
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Esconder o rosto era gesto cultural de desaprovação (Deuteronômio 31:17). Jó questiona por ser tratado como inimigo, invertendo a expectativa de relação entre Deus e o justo.
Tentarás assustar uma folha levada pelo vento Ou perseguirás uma palha seca?
Pois continuas a registrar acusações amargas contra mim, E me fazes responder pelos pecados da minha juventude.
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A menção a 'culpas da mocidade' reflete a doutrina da retribuição intergeracional (Êxodo 20:5), que Jó rejeita como explicação para seu sofrimento (Ezequiel 18:20 mais tarde contestará essa visão).
Colocas meus pés no tronco, Inspecionas todos os meus caminhos, E examinas cada uma das minhas pegadas.
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Os 'sinais dos pés' aludem a práticas de vigilância militar. Tabletes assírios descrevem sistemas de monitoramento de prisioneiros, ecoando a imagem de Deus como carcereiro rigoroso.
Então o homem se consome como algo podre, Como uma roupa comida por traças.