Diálogo de Justino Mártir com Trifão 35
Digressão sobre os falsos cristãos
Trifão replicou:
— Fiquei sabendo que muitos que dizem confessar a Jesus e que se chamam cristãos, comem do que é sacrificado aos ídolos e afirmam que nenhum mal lhes acontece por causa disso.
Eu respondi:
— De fato, existem pessoas que se dizem cristãos e confessam a Jesus crucificado como Senhor e Cristo; por outro lado, porém, não ensinam a doutrina dele, mas dos espíritos do erro. Nós, os discípulos da verdadeira e pura doutrina de Jesus Cristo, nos tornamos mais fiéis e mais firmes na esperança por ele anunciada. Com efeito, o que ele antecipadamente disse que aconteceria em seu nome, nós o vemos cumprido nos fatos com os próprios olhos.
De fato, ele disse: “Virão muitos em meu nome vestidos por fora com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes”. E: “Haverá cisões e seitas”. E ainda: “Cuidado com os falsos profetas que virão até vós vestidos de peles de ovelha por fora, mas por dentro são lobos vorazes”. E: “Surgirão muitos falsos cristos e muitos apóstolos que extraviarão muitos fiéis.
Portanto, amigos, existem e existiram muitos que ensinaram doutrinas e moral atéias e blasfemas, embora se apresentassem em nome de Jesus. Esses são chamados por nós com o nome de quem deu origem a cada doutrina ou opinião.
Com efeito, uns de um modo, outros de outro, ensinam a blasfemar ao Criador do universo e a Cristo, que por ele foi profetizado que deveria vir, assim como ao Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Nós não temos nenhuma comunhão com eles, pois sabemos que são ateus, ímpios, injustos e iníquos e que, em lugar de cultuar a Jesus, só o confessam de nome.
E se chamam cristãos, do mesmo modo que os das nações atribuem o nome de Deus às obras de suas mãos e tomam parte em iníquas e sacrílegas iniciações. Quanto a eles, uns se chamam marcionistas, outros valentinianos, outros basilidianos, outros saturniliano e com outros nomes, trazendo cada um o nome do fundador da seita, do mesmo modo como aqueles que, pretendendo professar uma filosofia, como notei no início, acreditavam ser um dever trazer o nome do pai ou da doutrina que professa.
Concluindo: também através desses hereges chegamos a conhecer que Jesus sabia antecipadamente o que aconteceria depois dele, do mesmo modo que sabemos também que, como ele predisse, deveríamos passar por muitas coisas nós que nele cremos e o confessamos como Cristo. De fato, tudo o que sofremos, ao sermos levados à morte pelos nossos próprios familiares, ele predisse que aconteceria. Assim, nada de reprovável aparece em suas palavras e ações.
Portanto, rogamos por vós e por todos os que nos atacam para que, convertendo-vos juntamente conosco, não blasfemeis Jesus Cristo que, por suas obras e milagres que ainda hoje se realizam em seu nome, pela excelência de sua doutrina e das profecias que a respeito dele foram feitas, não merece nenhuma reprovação ou acusação. Pelo contrário, crendo nele, possais salvar-vos em sua segunda vinda gloriosa e não sejais por ele condenados ao fogo.