Jó 13

"Meus olhos viram tudo isso, meus ouvidos o ouviram e entenderam.
O que vocês sabem, eu também sei; não sou inferior a vocês.
Mas desejo falar ao Todo-poderoso e defender a minha causa diante de Deus.
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Jó desafia o convencional ao buscar confrontar Deus diretamente, algo raro na literatura bíblica. Isso reflete uma tensão entre submissão e questionamento da justiça divina, tema central no livro.
Vocês, porém, me difamam com mentiras; todos vocês são médicos que de nada valem!
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A acusação de 'médicos que não valem nada' ironiza a falha dos amigos em consolar. Na cultura da época, conselheiros deveriam ajudar, mas aqui agravam o sofrimento de Jó com teologia simplista de retribuição (sofrimento = castigo).
Se tão-somente ficassem calados! Mostrariam sabedoria.
Escutem agora o meu argumento; prestem atenção à réplica de meus lábios.
Vocês vão falar com maldade em nome de Deus? Vão falar enganosamente a favor dele?
Vão revelar parcialidade por ele? Vão defender a causa a favor de Deus?
Tudo iria bem, se ele os examinasse? Vocês conseguiriam enganá-lo, como podem enganar os homens?
Com certeza ele os repreenderia, se no íntimo vocês fossem parciais.
O esplendor dele não os aterrorizaria? O pavor dele não cairia sobre vocês?
As máximas que vocês citam são provérbios de cinza; suas defesas não passam de barro.
"Aquietem-se e deixem-me falar; e aconteça-me o que me acontecer.
Por que me ponho em perigo e tomo a minha vida em minhas mãos?
Embora ele me mate, ainda assim esperarei nele; certo é que defenderei os meus caminhos diante dele.
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A tradução 'nele esperarei' é debatida. O hebraico permite ler como pergunta: 'Devo esperar?'. Alguns manuscritos gregos (LXX) sugerem dúvida, não certeza. A versão afirmativa tornou-se tradicional, mas a ambigüidade revela a complexidade da fé de Jó.
Aliás, isso será a minha libertação, pois nenhum ímpio ousaria apresentar-se a ele!
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A 'salvação' aqui é interpretada diversamente: 1) Justificação divina imediata; 2) Prefiguração messiânica (Cristo como salvador); 3) Esperança escatológica. A rejeição do hipócrita reforça a ideia de integridade como requisito para o diálogo com Deus.
Escutem atentamente as minhas palavras; que os seus ouvidos acolham o que eu digo.
Agora que preparei a minha defesa, sei que serei justificado.
Haverá quem me acuse? Se houver, ficarei calado e morrerei.
"Concede-me só estas duas coisas, ó Deus, e não me esconderei de ti:
Afasta de mim a tua mão, e não mais me assuste com os teus terrores.
Chama-me, e eu responderei, ou deixa-me falar, e tu responderás.
Quantos erros e pecados cometi? Mostra-me a minha falta e o meu pecado.
Por que escondes o teu rosto e consideras-me teu inimigo?
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Esconder o rosto era gesto cultural de desaprovação (Deuteronômio 31:17). Jó questiona por ser tratado como inimigo, invertendo a expectativa de relação entre Deus e o justo.
Atormentarás uma folha levada pelo vento? Perseguirás a palha?
Pois fazes constar contra mim coisas amargas e fazes-me herdar os pecados da minha juventude.
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A menção a 'culpas da mocidade' reflete a doutrina da retribuição intergeracional (Êxodo 20:5), que Jó rejeita como explicação para seu sofrimento (Ezequiel 18:20 mais tarde contestará essa visão).
Acorrentas os meus pés e vigias todos os meus caminhos, pondo limites aos meus passos.
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Os 'sinais dos pés' aludem a práticas de vigilância militar. Tabletes assírios descrevem sistemas de monitoramento de prisioneiros, ecoando a imagem de Deus como carcereiro rigoroso.
"Assim o homem se consome como coisa podre, como a roupa que a traça vai roendo.