Jó 21

Então Jó respondeu:
“Escutem com atenção as minhas palavras. Deem pelo menos esse conforto para mim.
Tenham paciência enquanto falo. E quando eu terminar, vocês poderão zombar de mim.
Estou por acaso me queixando de algum homem? Estou perdendo a paciência sem motivo?
Estejam atentos, e vocês ficarão espantados e colocarão a mão na boca.
Só de pensar nisso, fico perturbado, e o meu corpo fica cheio de arrepios.
Por que os injustos continuam vivos, e envelhecem cada vez mais ricos?
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Jó questiona por que os ímpios prosperam, um tema recorrente na literatura sapiencial (Sl73:3-12). Isso desafia a visão tradicional de retribuição divina imediata, gerando debate sobre a justiça de Deus.
Sua descendência está segura na companhia deles, e eles veem os seus filhos crescer.
Suas casas são tranquilas e sem temor; o bastão de Deus não os atinge.
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A afirmação de que a 'vara de Deus' não está sobre os ímpios contradiz a teologia retributiva comum no AT (Jr12:1). Jó aponta uma incongruência na realidade observada.
Seus touros reproduzem sem falhar, e suas vacas dão cria sem abortar.
Eles deixam suas crianças correr como cabritos, e seus pequenos saltam alegremente.
Cantam ao som de cítaras e pandeiros, e se divertem ao som da flauta.
Suas vidas transcorrem docemente, e eles descem tranquilos à sepultura.
Eles diziam a Deus: ‘Passa longe de nós, pois não nos interessa conhecer os teus caminhos.
Quem é o Todo-poderoso para que o sirvamos? O que é que ganhamos rezando a ele?’
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Os ímpios rejeitam servir a Deus, ecoando a rebeldia humana vista em textos como Êx5:2. A pergunta 'Quem é o Todo-Poderoso?' reflete um ceticismo prático, não filosófico.
Pois bem! Eles têm na mão a felicidade, e os projetos do injusto estão longe de Deus.
Quantas vezes a lâmpada dos injustos se apaga, ou a desgraça cai sobre eles, ou a ira de Deus os castiga com sofrimentos?
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A imagem da 'lâmpada apagada' dos ímpios aparece em Provérbios 13:9 como símbolo de fracasso. Porém, Jó destaca que isso nem sempre ocorre visivelmente, questionando a lógica tradicional.
Por acaso eles se tornam como folha seca ao vento, ou como palha levada pelo furacão?
Dizem que Deus castiga os filhos do injusto! Ora, faça que o injusto mesmo pague e aprenda:
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A ideia de punição aos filhos do ímpio gera controvérsia. Ezequiel 18:20 rejeita explicitamente esta noção, sugerindo uma evolução na compreensão da responsabilidade individual no AT.
que veja com seus próprios olhos a desgraça, e beba a ira do Todo-poderoso.
Pois, o que lhe importa a sua família depois de morto, quando o tempo de sua vida tiver chegado ao fim?
Pode-se por acaso ensinar a ciência a Deus? Deus governa no céu.
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A pergunta retórica sobre 'ensinar ciência a Deus' ressalta a transcendência divina, tema desenvolvido por Paulo em Romanos 11:33-34 sobre a insondabilidade dos juízos divinos.
Uma pessoa chega à morte em pleno vigor, sempre tranquila e próspera,
com as ancas cobertas de gordura e com a medula dos ossos cheia de energia.
Outra pessoa morre cheia de amargura, sem nunca ter provado a felicidade.
Ambas se deitam juntas no pó, cobertas de vermes.
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A igualdade final entre justos e ímpios na morte ecoa Eclesiastes 3:19-20. Jó usa isso para questionar a validade das acusações de seus amigos sobre seu suposto pecado.
Eu sei muito bem o que vocês estão pensando, e conheço os maus pensamentos que vocês remoem contra mim.
Eu sei que vocês dizem: ‘Onde está a casa do poderoso, onde está a moradia dos injustos?’
Por que vocês não fazem perguntas aos viajantes e não acreditam no que eles dizem?
O perverso é poupado no dia da catástrofe, e no dia da ira consegue escapar.
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A preservação do ímpio para o 'dia da destruição' antecipa conceitos escatológicos do NT (2Pe2:9), sugerindo que o juízo pode ser postergado, não inexistente.
Quem vai reprovar a conduta dele? Quem vai pedir contas do que ele fez?
Ele será solenemente acompanhado à sepultura, montarão guarda no seu túmulo,
e a terra será leve para ele. Todos os homens o acompanham e uma incontável multidão vai à frente dele.
E vocês me querem consolar com banalidades? As respostas de vocês são pura tapeação”.
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Jó acusa os amigos de 'consolação vã', apontando a inadequação da teologia retributiva tradicional. Isso prepara o terreno para o discurso divino nos capítulos 38-41.