Provérbios 11

Balança falsa é abominação para Javé, mas o peso exato lhe agrada.
*
A condenação de balanças fraudulentas reflete a importância da honestidade no comércio. Escavações arqueológicas no Oriente Médio encontraram pesos de pedra adulterados, comprovando a prática (séculos VIII-VI a.C.). Leis similares aparecem em dt25:13-15 e lv19:35-36.
Quando vem a soberba, vem também a desonra, ao passo que a sabedoria está com os humildes.
A integridade dos homens retos os guia, a perversidade dos traidores os arruína.
É inútil a riqueza no dia da cólera, mas a justiça livra da morte.
A justiça do homem honesto lhe aplana o caminho; por sua impiedade cai o ímpio.
A justiça dos homens retos os salva; em sua ganância ficam presos os traidores.
Quando morre o ímpio, acaba sua esperança; perece a confiança dos malvados.
*
A ideia de que os ímpios perdem tudo na morte parece contradizer Eclesiastes (ec9:2), que afirma que todos compartilham o mesmo destino. Isso revela tensão na teologia do Antigo Testamento sobre vida após a morte.
O justo é libertado da angústia; em seu lugar entra o ímpio.

O bem público.

Com sua boca o ímpio arruína seu próximo, mas os justos se salvam pelo conhecimento.
Com a prosperidade dos justos a cidade se alegra; e quando perecem os ímpios se faz festa.
Com a bênção dos homens retos se ergue uma cidade; mas pela boca dos ímpios é destruída.
Quem despreza seu próximo não tem entendimento; o homem prudente, porém, se cala.
Quem anda tagarelando revela segredos, quem tem espírito fiel os mantém ocultos.
Sem governo o povo decai, a segurança depende de um bom número de conselheiros.
Quem se faz fiador de um estranho se dá mal, quem evita dar garantias vive tranquilo.
A mulher graciosa alcança glória, mas os homens enérgicos adquirem riquezas.

Sentenças várias.

Faz bem a si mesmo o homem misericordioso, mas o cruel atormenta sua própria carne.
O ímpio obtém um falso lucro, mas para quem semeia a justiça a recompensa é certa.
Assim como a justiça é para a vida, quem segue o mal é destinado à morte.
Javé abomina os corações tortuosos, mas lhe agradam os que têm uma conduta íntegra.
Com certeza não ficará impune o malvado, mas a descendência dos justos será salva.
Anel de ouro em focinho de porco: tal é a mulher bonita mas sem juízo.
*
Comparação chocante para a cultura moderna, mas comum na literatura de provérbios. A imagem de um porco com joias (animal impuro para judeus) enfatiza a inutilidade da beleza sem virtude. Jesus usou metáfora similar em mt7:6.
O desejo dos justos é só o bem; os maus só podem esperar a ira.
Há quem é pródigo e aumenta sua riqueza, há quem poupa além da medida e só empobrece.
A pessoa generosa terá sucesso, e quem dá de beber será dessedentado.
Quem retém o trigo é amaldiçoado pelo povo, mas a bênção estará sobre a cabeça de quem o vende.
*
Acumular grãos durante crises era condenado, como visto em textos do Antigo Oriente Médio (ex: Código de Hamurabi). Contraste com José em gn41:35-36, que estocou grãos para o bem comum, não para especulação.
Quem procura o bem encontra o favor, quem busca o mal, o mal o atingirá.
Quem confia em sua riqueza cairá; mas os justos germinarão como a folhagem.
Quem deixa sua casa em desordem herdará o vento; e o tolo será escravo de quem tem um coração sábio.
O fruto do justo é uma árvore de vida, e quem conquista as almas é sábio.
*
'Ganhar almas' (hebraico 'lâqach') tem tradução controversa. A Septuaginta grega traz 'prudência', enquanto a Vulgata latina influenciou a leitura evangelística. A imagem da 'árvore da vida' remete a gn3:22 e ap22:2.
Se o justo recebe sua retribuição na terra, quanto mais o ímpio e o pecador!
*
A retribuição terrestre aqui contrasta com visões de recompensa pós-morte. Pedro (1pe4:18) cita este verso adaptando-o para contexto cristão. Manuscritos divergem: o Texto Massorético diz 'na terra', já a Septuaginta traz 'pelos seus feitos'.