Jeremias 20

Fassur, filho de Emer, sacerdote e superintendente-chefe do templo, ouviu Jeremias predizer todas essas coisas.
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Pasur, filho de Imer, era um sacerdote influente. Seu cargo como 'presidente na casa do Senhor' indicava autoridade sobre o Templo, o que explica sua oposição a Jeremias, cujas profecias ameaçavam o establishment religioso (2Rs 25:18 menciona um 'Pasur' como líder sacerdotal durante o cerco babilônico, possivelmente a mesma figura).
Fassur mandou açoitar o profeta Jeremias e pô-lo no tronco que se achava junto à porta superior de Benjamim, no templo de Javé.
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O 'cepo' era um instrumento de tortura que imobilizava o corpo, usado para humilhar prisioneiros. A localização na 'porta de Benjamim' (entrada norte de Jerusalém) simbolizava a exposição pública da mensagem de Jeremias como vergonha.
No dia seguinte, quando Fassur mandou soltar Jeremias do tronco, este lhe disse: “Javé não te chama mais Fassur, mas Terror de todos os lados.
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A mudança de nome de Pasur para 'Terror por todos os lados' (em hebraico, 'Magor-Missabib') reflete uma prática profética comum de usar nomes simbólicos (como em Is 8:1-4). Isso prenunciava o cerco babilônico que cercaria Jerusalém (Jr 6:25; 20:10).
Porque assim fala Javé: Vou fazer de ti um terror para ti e para todos os teus amigos; eles cairão pela espada de seus inimigos e teus olhos o verão. Porei todo Judá nas mãos do rei de Babilônia, o qual os deportará para Babilônia e os ferirá com a espada.
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A profecia sobre o exílio babilônico se cumpriu historicamente em 586 a.C., quando Nabucodonosor destruiu Jerusalém (2Rs 25:8-11). A menção específica à 'espada' corrobora relatos arqueológicos como os Anais Babilônicos, que detalham a violência da conquista.
Entregarei todas as riquezas desta cidade e todos os seus produtos, todos os objetos preciosos e todos os tesouros dos reis de Judá às mãos de seus inimigos, os quais os saquearão e os tomarão e os levarão para Babilônia.
Tu, Fassur, e todos os habitantes de tua casa ireis para a escravidão; irás para Babilônia, lá morrerás e lá serás sepultado, tu e todos os teus amigos aos quais predisseste mentiras”.
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A acusação de profecias falsas contra Pasur ecoa as advertências de Deuteronômio 18:20-22. A menção à morte na Babilônia é irônica, pois os falsos profetas como Hananias (Jr 28:1-17) pregavam um breve exílio.

Jeremias “seduzido” por Javé.

Seduzistes-me, Javé, e eu me deixei seduzir; vós me dominastes e prevalecestes. Tornei-me objeto de riso todo dia; todos eles zombam de mim.
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Este lamento pessoal de Jeremias revela o conflito entre sua vocação e o sofrimento. A expressão 'fogo ardente' (v.9) é paralela a Jó 32:18-19, mostrando a incontrolabilidade da missão profética. A solidão do profeta antecipa temas dos Salmos de lamentação (Sl 22:7-8).
Cada vez que falo, devo gritar e proclamar: “Violência! Ruína!” Assim, a palavra de Javé tornou-se para mim motivo de opróbrio e de zombaria todo dia.
Eu me dizia: “Não pensarei mais nele, não falarei mais em seu nome”. Mas em meu coração havia como um fogo ardente, fechado em meus ossos; eu me esforçava para contê-lo, mas não podia.
Escutava as calúnias de muitos: “Terror de todos os lados! Denunciai-o, e vamos denunciá-lo”. Todos os meus amigos espreitavam minha queda: “Talvez se deixará apanhar num engano, assim prevaleceremos sobre ele, tomaremos nossa vingança”.
Mas Javé está a meu lado como herói valoroso. Por isso meus perseguidores cairão e não poderão prevalecer; ficarão cobertos de vergonha porque não terão êxito, e sua vergonha será eterna e indelével.
Mas vós, Javé dos exércitos, que provais o justo e sondais o coração e a mente, permiti que eu veja vossa vingança sobre eles, porque a vós confiei minha causa.
Cantai hinos a Javé, louvai Javé, porque libertou a vida do pobre das mãos dos malfeitores.

Jeremias maldiz o dia de seu nascimento.

Maldito o dia em que nasci! O dia em que minha mãe me deu à luz não seja bendito.
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A maldição do próprio nascimento é um paralelo direto a Jó 3:1-19, mas com tom mais intenso. Isso reflete a angústia extrema de Jeremias, questionando até o sentido de sua existência – um contraste chocante com sua missão divina.
Maldito o homem que levou esta notícia a meu pai: “Nasceu-te um filho homem”, enchendo-o de alegria.
Aquele homem seja como as cidades que Javé demoliu sem compaixão. Que ele ouça grito de alarme de manhã e clamor de guerra ao meio-dia,
porque não me fez morrer no seio materno; minha mãe teria sido minha sepultura e sem-fim, sua gravidez.
Por que afinal saí do seio materno? Para ver tormentos e dor e para terminar meus dias na vergonha?