Jó 40

E Javé disse a Jó:
Aquele que disputa com o Onipotente quer instruí-lo? Responda aquele que discute com Deus.
*
Deus questiona a pretensão humana de questionar sua sabedoria (tema central do livro). Referência similar em romanos9:20, onde Paulo cita a insensatez de contestar Deus.
E Jó respondeu a Javé:
Eu sou bem mesquinho: que vos posso responder? Ponho a mão sobre minha boca.
*
Jó reconhece sua pequenez diante do divino. O gesto de por a mão na boca era um sinal cultural de silêncio reverente (cf. isaías6:5).
Falei uma vez, mas não replicarei, falei duas vezes, mas não continuarei.

Grandeza de Deus criador.

Então Javé respondeu a Jó do meio do turbilhão, dizendo:
*
A aparição de Deus no redemoinho (ou tempestade) é uma teofania comum no AT (ez1:4; ex19:16-19). Simboliza poder incontrolável.
Cinge os rins como homem: eu te interrogarei e tu me instruirás.
Ousarias mesmo anular meu juízo e dizer que estou errado para teres razão?
*
Deus confronta Jó por questionar sua justiça. Esta crítica antecipa o tema da soberania divina sobre o mal (explorado em job42:2-6).
Tens tu um braço como o de Deus e podes trovejar com a voz como ele?
*
A comparação do 'braço' divino com força humana remete a símbolos de poder no AT (ex15:6; sl89:13). Reforça a incomparabilidade de Deus.
Orna-te de majestade e de grandeza, reveste-te de esplendor e de glória.
Derrama os furores de tua cólera, e com um olhar abate todos os soberbos.
Humilha com um olhar todo arrogante, esmaga os ímpios onde quer que estejam.
Esconde-os no pó todos juntos, encerra suas faces no lugar oculto.
Então também eu te louvarei, porque tua mão direita te haverá dado a vitória.

O hipopótamo.

Vê o hipopótamo, que eu criei como também a ti: ele come capim como o boi.
*
Beemote (do hebraico 'bemot', plural intensivo de 'animal') gera debates: hipopótamo (interpretação tradicional), dinossauro (leitura anacrônica) ou criatura mítica (como símbolo do caos dominado por Deus). Não há consenso acadêmico.
Observa: sua força está nos rins e seu vigor nos músculos do ventre.
Endurece a cauda como um cedro, os nervos de suas coxas se entrelaçam;
seus ossos são tubos de bronze, suas vértebras como barras de ferro.
Ele é a primeira das obras de Deus; seu criador o proveu de espada.
*
'Obra-prima dos caminhos de Deus' sugere que o Beemote, apesar de poderoso, é criatura submissa. Contrasta com mitos do Oriente Médio onde monstros desafiam deuses (ex: Tiamat na Babilônia).
Os montes lhe fornecem pastagem e lá todos os animais do campo se divertem.
Debaixo das plantas de lótus se deita, entre os caniços do pântano se esconde.
Com sua sombra o cobrem os lótus selvagens, os salgueiros da torrente o circundam.
Se o rio transborda, ele não teme, fica tranquilo, ainda que o Jordão suba até sua boca.
Quem pode agarrá-lo pela frente e atravessar seu focinho com uma corda?

O crocodilo.

Podes fisgar o crocodilo com o anzol e prender sua língua com uma corda,
fincar-lhe um junco nas narinas e furar-lhe a queixada com um gancho?
Ele te fará muitas súplicas e te dirigirá palavras mansas?
Fará contigo uma aliança, para que o tomes como servo para sempre?
Brincarás com ele como se fosse um passarinho, prendendo-o para divertir tuas filhas?
As companhias de pesca o venderão, os comerciantes o dividirão entre si?
Crivarás de dardos sua pele e com o arpão sua cabeça?
Põe sobre ele tua mão: à lembrança da luta, não tentarás de novo!