Jó 16

Então Jó respondeu:
Já ouvi muitas coisas como estas; sois todos consoladores importunos.
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Jó critica a falsa consolação dos amigos, refletindo a tensão entre a teologia da retribuição (sofrimento como castigo) e a realidade do inocente que sofre, tema central do livro.
Quando acabarão vossos discursos vazios? Ou o que te leva a responder ainda?
Também eu seria capaz de falar como vós, se estivésseis em meu lugar: multiplicaria as palavras contra vós e sacudiria a cabeça contra vós.
Eu vos confortaria com a boca e movendo meus lábios vos acalmaria.
Mas se falo, não cessa minha dor; se me calo, ela se afastará de mim?
Agora, porém, Deus me extenuou, devastou toda a minha companhia;
insurgiu-se como testemunha contra mim: meu caluniador depõe contra mim.
Sua cólera me dilacera, me persegue, range os dentes contra mim; meu inimigo sobre mim aguça os olhos.
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Jó atribui sua destruição diretamente a Deus ('ele me perseguiu'), mostrando a crise teológica: como um Deus justo permite o sofrimento do inocente? Essa personificação da ira divina é única na literatura sapiencial.
Abrem sua boca contra mim, batem-me no rosto com insultos, todos se aliam contra mim.
Deus me entrega aos malvados, e me lança nas mãos dos ímpios.
Eu estava tranquilo e ele me arruinou, agarrou-me pelo pescoço e me triturou; fez de mim seu alvo.
Seus arqueiros me rodeiam de todo lado; ele atravessa meus rins sem piedade e derrama no chão meu fel.
Abre-me ferida sobre ferida, assalta-me como um guerreiro.
Costurei um saco sobre minha pele e prostrei a fronte no pó.
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O uso de cilício (tecido áspero) e cinzas era costume ritual de luto no Antigo Oriente Próximo, confirmado por descobertas arqueológicas como os textos de Ugarit (século XIII a.C.).
De tanto chorar, tenho o rosto vermelho e a sombra cobre minhas pálpebras.
Contudo, não há violência em minhas mãos e pura tem sido minha oração.
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A declaração de inocência ('não haver violência nas minhas mãos') desafia a doutrina tradicional dos amigos. Manuscritos da Septuaginta acrescentam 'perante Deus', enfatizando a integridade espiritual de Jó.
Ó terra, não cubras meu sangue e não tenha descanso meu clamor.
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O clamor para a terra não cobrir seu sangue ecoa o sangue de Abel (gn4:10), criando paralelo entre Jó como vítima injustiçada e a tradição primordial de inocência violada.
Mas desde agora minha testemunha está nos céus, meu defensor está lá em cima.
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A 'testemunha no céu' é interpretada diversamente: 1) Apelo ao próprio Deus como juiz 2) Anjo intercessor 3) Figura messiânica (anticipando Jó 19:25). Cristologia posterior vê aqui indício de mediação divina (1tm2:5).
Meus amigos zombam de mim, mas diante dele meus olhos derramam lágrimas,
para que defenda o homem diante de Deus, como faz um mortal com seu próximo;
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O desejo de um mediador humano-divino (contender com Deus) antecipa debates sobre intercessão. No NT, essa função é atribuída a Cristo (hb7:25).
pois passarão mais uns poucos anos e irei por um caminho sem retorno.