Isaías 23

Oráculo contra Tiro. Gemei, navios de Társis, pois ela foi destruída; já não há casa nem porto. Do país de Cetim lhes chegou a notícia.
*
Tiro era uma importante cidade fenícia conhecida por seu comércio marítimo. Sua destruição foi cumprida historicamente por Nabucodonosor (século VI a.C.) e depois por Alexandre Magno (332 a.C.). 'Quitim' refere-se a Chipre, base naval dos fenícios.
Silêncio, habitantes da costa; os comerciantes de Sidônia que atravessam o mar vos enriqueceram.
Através das grandes águas, o trigo de Sior, a colheita do Nilo, era sua renda; e ela era o mercado das nações.
Envergonha-te, Sidônia, porque o mar, a fortaleza do mar, toma a palavra e diz: “Eu não senti dores de parto nem dei à luz filhos, não eduquei rapazes nem criei moças”.
Quando a notícia chegar ao Egito, vão angustiar-se ao saber da sorte de Tiro.
*
A menção às 'dores do Egito' pode aludir às derrotas egípcias para a Assíria (como a queda de Memphis em 671 a.C.), comparando o impacto da queda de Tiro a esses eventos traumáticos.
Atravessai para Társis e gemei, habitantes da costa!
É esta vossa cidade alegre, cuja origem remonta aos dias de outrora, cujos pés a levaram ao longe para aí estabelecer-se?
Quem decidiu isto contra Tiro, que distribuía coroas, e cujos mercadores eram príncipes e cujos comerciantes, os grandes da terra?
Foi Javé dos exércitos que o decidiu, para humilhar o orgulho de todo o seu esplendor, para abater todos os grandes da terra.
*
A humilhação de Tiro é atribuída ao plano divino contra a soberba, tema recorrente em profetas (ex: ez28:1-10). Arqueologia confirma a riqueza de Tiro através de inscrições assírias e relatos gregos.
Atravessa teu país como o Nilo, filha de Társis, porque não há mais porto.
Ele estendeu a mão contra o mar, fez tremer os reinos; Javé decretou a propósito de Canaã que sejam destruídas as fortalezas.
E disse: “Não continuarás mais a fazer festa, virgem desonrada, filha de Sidônia! Levanta-te, passa a Cetim, nem mesmo lá encontrarás repouso.
Eis a terra dos caldeus, esse povo que não existia; a Assíria o destinou às feras do deserto. Eles ergueram suas torres, destruíram seus palácios e os converteram em ruínas.
*
A Assíria destruiu cidades fenícias no século VIII a.C., mas foi derrotada pela Babilônia (612 a.C.). O texto sugere ironicamente que até os caldeus (babilônios), que viriam a dominar a região, eram antes um 'não-povo'.
Gemei, navios de Társis, porque vossa fortaleza está destruída.

Restauração de Tiro.

E acontecerá, naquele dia, que Tiro será esquecida por setenta anos, o tempo de vida de um rei. Mas, ao fim de setenta anos, acontecerá com Tiro o que diz a canção da prostituta:
*
Os 70 anos podem ser simbólicos (número de completude) ou referir-se ao período aproximado do domínio babilônico (605-539 a.C.). Há debate: Nabucodonosor sitiou Tiro por 13 anos, mas a destruição total veio com Alexandre.
“Toma a cítara, percorre a cidade, prostituta esquecida! Toca bem, repete tua canção para poder ser lembrada!”
E acontecerá que, no fim de setenta anos, Javé visitará Tiro. Ela receberá de novo seu salário e se prostituirá com todos os reinos do mundo sobre a face da terra.
*
A restauração de Tiro após 70 anos corrobora relatos de sua recuperação comercial pós-Babilônia. A metáfora da 'prostituta' critica a alianças políticas e idolatria (common em profetas: na1:3, ap17:1-2).
Mas seu ganho e seu salário serão consagrados a Javé. Não serão acumulados nem guardados; mas é para os que habitam diante de Javé que irá seu ganho, para que eles tenham comida em abundância e roupas suntuosas.