Gênesis 30

Vendo que não conseguia dar filhos a Jacó, Raquel teve inveja de sua irmã e disse a Jacó: “Dá-me filhos, senão morrerei”.
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Raquel recorrer à serva Bila reflete um costume da época: mulheres estéreis usavam servas como 'barrigas de aluguel' (prática similar em gn16:2). A poligamia era socialmente aceita, mas gerava conflitos familiares.
Jacó se irritou contra Raquel e respondeu: “Por acaso estou eu no lugar de Deus, que te recusou a maternidade?”.
Raquel respondeu: “Eis minha serva Bala; une-te a ela, para que dê à luz sobre meus joelhos e eu possa ter filhos por meio dela”.
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O ato de Raquel dar Bila a Jacó imita o caso de Sara e Hagar (gn16:2). A expressão 'sobre meus joelhos' simboliza adoção legal, onde o filho da serva seria considerado herdeiro legítimo da patroa.
E deu-lhe por mulher sua serva Bala, à qual Jacó se uniu.
Bala concebeu e deu à luz um filho a Jacó.
E Raquel disse: “O Senhor me fez justiça e também ouviu minha voz, dando-me um filho”. Por isso o chamou Dã.
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Dã significa 'ele julgou'. Raquel atribui a Deus um juízo a seu favor, embora o método fosse questionável. Ironia: Dã se tornaria tribo associada à idolatria (juízes 18:30).
Bala, serva de Raquel, concebeu de novo e deu à luz um segundo filho a Jacó.
Raquel disse: “Lutei enormemente com minha irmã e venci”. Assim, pois, o chamou Neftali.
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Naftali significa 'minha luta'. Raquel transforma a rivalidade com Lia em vitória simbólica, porém os filhos das servas terão papel secundário na história de Israel.
Lia, vendo que tinha cessado de dar à luz, tomou sua serva Zelfa e a deu por mulher a Jacó.
Zelfa, serva de Lia, deu à luz um filho a Jacó.
Lia disse: “Boa sorte!” e lhe deu o nome de Gad.
Zelfa, serva de Lia, deu à luz outro filho a Jacó.
Lia disse: “Sou feliz, pois as mulheres me felicitarão!” e o chamou Aser.
Certo dia, no tempo da ceifa do trigo, Rúben saiu pelo campo; encontrou umas mandrágoras e as levou a Lia, sua mãe. Raquel então disse a Lia: “Dá-me, por favor, das mandrágoras de teu filho”.
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Mandrágulas eram consideradas afrodisíacas e fertilizantes naturais (cantares 7:13). A cena revela o comércio sexual entre as irmãs usando o marido como moeda de troca.
Lia respondeu: “Não basta que me tenhas tomado o marido? Queres também tomar-me as mandrágoras de meu filho?” Disse-lhe Raquel: “Pois bem, que Jacó durma contigo esta noite em troca das mandrágoras de teu filho”.
À tarde, quando Jacó voltava do campo, Lia saiu-lhe ao encontro e disse-lhe: “Vem comigo, porque te contratei pelo preço das mandrágoras de meu filho”. Ele dormiu com ela naquela noite.
Deus ouviu Lia, a qual concebeu e deu à luz um quinto filho a Jacó.
Lia disse: “Deus recompensou-me por ter dado minha serva a meu marido”. E lhe pôs o nome de Issacar.
Lia concebeu novamente e deu a Jacó um sexto filho.
Lia disse então: “Deus me fez um belo presente; agora meu marido me honrará, pois lhe dei seis filhos”. E deu ao filho o nome de Zabulon.
Depois deu à luz uma filha, que ela chamou Dina.
Então Deus se lembrou de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda.
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A abertura da madre de Raquel ecoa o padrão de mulheres estéreis que geram filhos importantes (Sara, Rebeca, Ana). José se tornará figura central, mas a narrativa enfatiza que a fertilidade vem de Deus, não de métodos humanos.
Ela concebeu, deu à luz um filho e disse: “Deus me livrou da desonra”.
E o chamou José, dizendo: “Que Javé me conceda outro filho”.

Contrato entre Jacó e Labão.

Depois que Raquel deu à luz José, Jacó disse a Labão: “Deixa-me partir para meu lugar, minha terra.
Dá-me minhas mulheres pelas quais te servi e meus filhos, e eu partirei; pois bem conheces o serviço que te prestei”.
Labão disse: “Se encontrei favor junto de ti...! Fiquei sabendo por adivinhação que Javé me abençoou por tua causa”.
E acrescentou: “Determina o salário que te devo dar”.
Disse-lhe Jacó: “Tu sabes como te servi e como se desenvolveu teu rebanho em minhas mãos.
Era pouco o que possuías antes de mim e tudo aumentou depois, porque Javé te abençoou com minha chegada. Quando é que poderei fazer alguma coisa para minha família?”.
Replicou Labão: “Que devo dar-te?”. Respondeu Jacó: “Não tens de me dar nada; continuarei a apascentar e a guardar teu rebanho, se fizeres para mim isto:
vou passar hoje pelo meio de todo o rebanho e separar todo animal escuro entre os cordeiros e todo animal malhado ou salpicado entre as cabras; isto será meu salário.
Minha honestidade dará testemunho de mim diante de ti futuramente, quando chegar o dia de me pagares: todo animal em meu poder, que não for malhado ou salpicado entre as cabras e escuro entre os cordeiros, será tido como roubado”.
Labão disse: “Está bem; seja como disseste”.
Naquele mesmo dia Labão separou os bodes listrados e malhados, e todas as cabras salpicadas e malhadas, todos os que tinham algo de branco, e todos os de cor escura entre os cordeiros, e os entregou a seus filhos.
E pôs uma distância de três dias entre eles e Jacó, o qual apascentava o resto do rebanho de Labão.
Jacó tomou então varas verdes de álamo, amendoeira e plátano, e removeu-lhes tiras da casca, deixando a descoberto a brancura das varas.
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O método mágico-agrícola de Jacó combina superstição (crença no poder das varas riscadas) e conhecimento empírico de genética animal. Arqueologia mostra que pastores antigos desenvolviam técnicas de seleção animal, embora a explicação sobrenatural domine o texto.
Colocou as varas assim descascadas nos tanques e bebedouros, onde os animais vinham beber; e os animais se acasalavam quando vinham beber.
Assim, as fêmeas que eram cobertas à vista das varas davam crias listradas, salpicadas e malhadas.
Jacó separou os cordeiros e virou o rebanho em direção aos animais listrados e a todos os que eram escuros no rebanho de Labão; assim formou um rebanho separado, que não se misturava com o de Labão.
E toda vez que se acasalavam as ovelhas fortes, Jacó punha as varas à vista dos rebanhos, nos bebedouros, para que se acasalassem à vista das varas;
mas diante das fracas não as punha, e assim as crias fracas ficavam para Labão e as fortes para Jacó.
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Jacó usa estratégia darwinista: separa os animais mais fortes para aplicar seu método, deixando os fracos para Labão. A narrativa justifica seu enriquecimento como astúcia abençoada por Deus, embora use táticas questionáveis.
Com isso Jacó se tornou extremamente rico e chegou a possuir numerosos rebanhos, servos e servas, camelos e jumentos.