Ezequiel 14

Vieram ter comigo alguns dos anciãos de Israel e sentaram-se diante de mim.
Foi-me dirigida então esta palavra de Javé:
“Filho do homem, estes homens puseram seus ídolos em seu coração e colocaram diante de seus rostos aquilo que os faz cair na iniquidade. Eu me deixarei interrogar por eles?
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Deus questiona se deve responder a líderes que, embora busquem orientação, mantêm ídolos 'no coração' (lealdade dividida). Isso reflete o tema da hipocrisia religiosa, comum nos profetas (ex: is1:15). A prática de consultar profetas sem verdadeira devoção era um problema durante o exílio babilônico.
Fala, portanto, e dize-lhes: Assim fala o Senhor Javé: Qualquer israelita que tiver erigido seus ídolos no próprio coração e tiver colocado diante de seu rosto aquilo que o faz cair na iniquidade, e vier ao profeta, eu, Javé, lhe responderei como merece a multidão de seus ídolos,
para tocar o coração dos israelitas que se afastaram de mim por causa de todos os seus ídolos”.

Exortação a converter-se.

“Dize portanto à casa de Israel: Assim fala o Senhor Javé: Convertei-vos, abandonai vossos ídolos e desviai o rosto de todas as vossas abominações,
porque a qualquer israelita e a qualquer estrangeiro habitante em Israel, que se afasta de mim e ergue seus ídolos no próprio coração e coloca diante de seu rosto aquilo que o faz cair na iniquidade e depois vem ao profeta para consultar-me, responderei eu, Javé, pessoalmente.
Voltarei meu rosto contra tal homem e farei dele um exemplo e um provérbio, e o exterminarei de meu povo: sabereis assim que eu sou Javé.
Se um profeta se deixa seduzir e faz uma profecia, eu, Javé, seduzi aquele profeta: estenderei a mão contra ele e o cancelarei do meio de meu povo Israel.
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A ideia de Deus 'enganar' um profeta gera debate. Alguns interpretam como ironia (Deus permite que o falso profeta aja conforme sua própria ilusão), outros como juízo ativo (1rs22:22). Essa passagem mostra a visão de que até o engano pode servir ao propósito divino de julgamento.
Ambos levarão a pena de sua iniquidade. A pena de quem consulta será igual à do profeta,
para que a casa de Israel não se desvie mais de mim, nem se contamine mais com todas as suas transgressões: eles serão meu povo e eu serei seu Deus – oráculo do Senhor Javé”.

A responsabilidade individual.

Foi-me dirigida esta palavra de Javé:
“Filho do homem, se um país peca contra mim, cometendo infidelidade, estenderei a mão contra ele, retirarei dele a provisão de pão, mandarei contra ele a fome e exterminarei dele homens e animais;
mesmo se no país vivessem estes três homens: Noé, Daniel e Jó, eles com sua justiça salvariam apenas a si mesmos, diz o Senhor Javé.
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A menção a Daniel aqui é intrigante, pois o livro de Ezequiel é contemporâneo ao profeta Daniel bíblico. Uma teoria é que se refere a 'Danel', herói justo da literatura ugarítica (séc. XIII a.C.), conhecido por textos descobertos em Ras Shamra (1929). Isso sugere que Ezequiel usa uma figura tradicional, não o Daniel do cativeiro.
Ou se eu infestasse aquele país de animais ferozes, que o privassem de seus filhos e fizessem dele um deserto, que ninguém pudesse atravessar por causa dos animais ferozes,
mesmo se no meio daquela terra estivessem esses três homens, juro como é verdade que eu vivo, oráculo do Senhor Javé: não salvariam nem filhos e nem filhas, somente eles se salvariam, mas a terra seria um deserto.
Ou, se eu mandasse a espada contra aquele país e dissesse: ‘Espada, percorre o país’, e ela exterminasse homens e animais,
mesmo se no meio daquele país estivessem aqueles três homens, juro como é verdade que eu vivo, oráculo do Senhor Javé: não salvariam nem filhos e nem filhas, somente eles se salvariam.
Ou, se eu mandasse a peste contra aquele país e derramasse meu furor contra eles na matança, exterminando homens e animais,
mesmo se no meio daquele país estivessem Noé, Daniel e Jó, juro como é verdade que eu vivo, diz o Senhor Javé: não salvariam nem filhos e nem filhas, somente eles se salvariam, por sua justiça”.
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A repetição de Noé, Daniel/Jó (em alguns manuscritos) e Jó como exemplos de justiça individual reflete a crença antiga de que a retidão pessoal não transfere para a comunidade. Contrasta com visões posteriores de intercessão (ex: abraão em gn18:23-33).

O pequeno resto.

Com efeito, diz o Senhor Javé: “Quando eu mandar contra Jerusalém meus quatro tremendos castigos: a espada, a fome, os animais ferozes e a peste, para extirpar dela homens e animais,
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Os 'quatro juízos' (espada, fome, feras, peste) eram calamidades associadas a pactos quebrados (lv26:21-26). Arqueologia confirma crises assim em Judá: inscrições assírias e babilônicas descrevem cercos com fome; ossadas mostram epidemias no séc. VI a.C.
no meio dela será deixado um resto que será levado para fora, filhos e filhas. Eles irão a vós para que vejais sua conduta e suas obras e vos consoleis do mal que mandei contra Jerusalém, de tudo quanto mandei contra ela.
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A sobrevivência de um remanescente é tema central no exílio (ex: is10:20-22). O 'consolo' vem do reconhecimento de que o julgamento não foi arbitrário - ideia que ecoa em textos como as Lamentações, escritas após a queda de Jerusalém (586 a.C.).
Eles vos consolarão quando virdes sua conduta e suas obras, e sabereis que não foi em vão que eu fiz aquilo que fiz no meio dela” – oráculo do Senhor Javé.