Tobias 11

De regresso, chegaram no décimo primeiro dia de viagem a Caserin, que está a meio caminho na direção de Nínive.
O anjo disse então: “Tobias, meu irmão, tu sabes em que estado deixaste o teu pai.
Se for do teu agrado, poderíamos tomar a dianteira, deixando a tua mulher, os servos e os rebanhos seguirem devagar pelo caminho”.
Tendo Tobias concordado com esse parecer, Rafael disse-lhe: “Leva contigo o fel do peixe, porque vais precisar dele”. Tomou, pois, Tobias o fel e partiram.
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O uso da bile de peixe como remédio reflete práticas medicinais antigas (cf. Plínio, História Natural 32.24). O cachorro acompanhando Tobias é raro: cães geralmente tinham conotação negativa na Bíblia (ex: 1Rs 14:11), mas aqui pode simbolizar proteção.
Ana, por sua vez, ia todos os dias assentar-se perto do caminho, no cimo de uma colina, de onde podia ver ao longe.
Ela espreitava ali a volta de seu filho, quando o viu de longe que voltava e o reconheceu. Correu ao seu marido e disse-lhe: “Eis que aí vem o teu filho!”.
Ora, Rafael tinha dito a Tobias: “Logo que entrares em tua casa, adorarás o Senhor, teu Deus, e lhe darás graças. Irás em seguida beijar teu pai
e lhe porá imediatamente nos olhos o fel do peixe que tens contigo. Sabe que seus olhos se abrirão instantaneamente e que teu pai verá a luz do céu. E, vendo-te, ficará cheio de alegria”.
O cão, que os tinha acompanhado durante a viagem, correu então adiante como um mensageiro e mostrava o seu contentamento fazendo festas e abanando a cauda.
O pai cego levantou-se e pôs-se a correr, tropeçando. Dando então a mão a um criado, foi ao encontro de seu filho.
Abraçou-o e beijou-o, fazendo o mesmo sua mulher e ambos começaram a chorar de alegria.
Só se assentaram depois de terem adorado e agradecido a Deus.
Tobias tomou então o fel do peixe e o pôs nos olhos de seu pai.
Depois de ter esperado cerca de meia hora, começou a sair-lhe dos olhos uma belida branca como a membrana de um ovo.
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A menção aos 'santos anjos' reforça a angelologia desenvolvida no judaísmo pós-exílio. A expressão 'nome grandioso' (em aramaico: _Shema Rabba_) era usada em exorcismos judaicos antigos, ligando-se ao contexto de proteção contra demônios no livro.
Tobias tomou-a e a arrancou dos olhos de seu pai, o qual recobrou instantaneamente a vista.
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Nínive era capital do Império Assírio, destruída em 612 a.C. A menção a judeus ali no século VI a.C. é anacrônica: a comunidade judaica na região só se formou após o exílio babilônico (586 a.C.), indicando possível adaptação histórica pelo autor.
E louvaram a Deus, ele, sua mulher e todos os que o conheciam.
“Bendigo-vos, Senhor, Deus de Israel” –, dizia ele – porque depois de me terdes provado, me salvastes: eis que vejo o meu filho Tobias!”
Sete dias depois, chegou também Sara, mulher de seu filho, com todos os seus servos, em boa saúde, com os rebanhos, os camelos, o grande dote da esposa e mais o dinheiro recebido de Gabael.
Tobias contou a seus pais todos os benefícios que Deus lhe tinha feito por intermédio de seu guia.
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Aicar (ou Ahiqar) é personagem de um texto aramaico do século V a.C. achado no Egito. Seu livro era popular no antigo Oriente Médio, mas sua ligação com Nadab como parentes de Tobit é exclusiva desta narrativa, sugerindo apropriação literária.
Chegaram também Aicar e Nadab, primos de Tobit, felizes de poderem congratular-se com ele pelos benefícios que Deus lhe tinha prodigalizado.
Durante sete dias houve festa e grande regozijo.