Romanos 9
Digo a verdade em Jesus Cristo, não minto; a minha consciência me dá testemunho pelo Espírito Santo: 
sinto grande pesar, incessante amargura no coração. 
Porque eu mesmo desejaria ser reprovado, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, segundo a carne. 
Eles são os israelitas; a eles foram dadas a adoção, a glória, as alianças, a Lei, o culto, as promessas 
e os patriarcas; deles descende Cristo, segundo a carne, o qual é, sobre todas as coisas, Deus bendito para sempre. Amém. 
Não quer dizer, porém, que a Palavra de Deus tenha falhado. Porque nem todos os que descendem de Israel são verdadeiros israelitas, 
como nem todos os descendentes de Abraão são filhos de Abraão; mas: É em Isaac que terás uma descendência que trará o teu nome ( Gn 21,12 ). 
Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que serão considerados como descendentes. 
Realmente, a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho ( Gn 18,10 ). 
E não somente ela, senão também Rebeca, que concebeu (dois filhos) de um só homem, Isaac, nosso patriarca. 
Antes mesmo que fossem nascidos, e antes que tivessem feito bem ou mal algum (para que fosse confirmada a liberdade da escolha de Deus, 
que depende não das obras, mas daquele que chama), foi dito a Rebeca: O mais velho servirá o mais moço ( Gn 25,23 ). 
Que diremos, pois? Haverá injustiça em Deus? De modo algum! 
Porque ele disse a Moisés: Farei misericórdia a quem eu fizer misericórdia; terei compaixão de quem eu tiver compaixão ( Ex 33,19 ). 
Dessa forma, a escolha não depende daquele que quer, nem daquele que corre, mas da misericórdia de Deus. 
Por isso, diz a Escritura ao faraó: Eis o motivo por que te suscitei, para mostrar em ti o meu poder e para que se anuncie o meu nome por toda a terra ( Ex 9,16 ). 
Portanto, ele tem misericórdia de quem quer, e endurece a quem quer. 
Mas quem és tu, ó homem, para contestar a Deus? Porventura o vaso de barro diz ao oleiro: “Por que me fizeste assim?”. 
Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para fazer da mesma massa um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar? 
(Onde, então, está a injustiça) em ter Deus, para mostrar a sua ira e manifestar o seu poder, suportado com muita paciência os objetos de ira preparados para a perdição, 
mostrando as riquezas da sua glória para com os objetos de misericórdia que, de antemão, preparou para a glória? 
(Esses somos nós, que ele chamou não só dentre os judeus, mas também dentre os pagãos.) É o que ele diz em Oseias: 
E no lugar mesmo em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, ali serão chamados filhos de Deus vivo ( Os 2,1 ). 
A respeito de Israel, exclama Isaías: Ainda que o número de filhos de Israel fosse como a areia do mar, só um resto será salvo; 
porque o Senhor realizará plenamente e prontamente a sua palavra sobre a terra (10,22s). 
E ainda como predisse Isaías: Se o Senhor dos exércitos não nos tivesse deixado um rebento, ficaríamos como Sodoma, seríamos como Gomorra ( Is 1,9 ). 
Então, que diremos? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justificação, a que vem da fé, 
ao passo que Israel, que procurava uma Lei que desse a justificação, não a encontrou. 
Por quê? Porque Israel a buscava como fruto não da fé, e sim das obras. E tropeçou na pedra do escândalo, 
como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de escândalo, um rochedo que faz cair; quem nele crer não será confundido ( Is 8,14 ; 28,16).