Mateus 28

Depois do sábado, quando amanhecia o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a ou­tra Maria foram ver o túmulo.
E eis que houve um violento tremor de terra: um anjo do Senhor desceu do céu, rolou a pedra e sentou-se sobre ela.
*
O terremoto mencionado aqui é exclusivo de Mateus, reforçando o caráter sobrenatural do evento. Arqueologia confirma atividade sísmica na Palestina no século I, mas não há evidências específicas ligadas a este relato.
Resplandecia como relâmpago e suas vestes eram brancas como a neve.
Vendo isso, os guardas pensaram que morre­riam de pavor.
Mas o anjo disse às mulheres: “Não temais! Sei que procurais Jesus, que foi crucificado.
*
A afirmação 'como havia dito' refere-se às profecias de Jesus sobre sua ressurreição (mt16:21, mt17:22-23). A menção do túmulo vazio corrobora o testemunho feminino, relevante pois mulheres não eram consideradas testemunhas confiáveis no direito judaico.
Não está aqui: ressuscitou como disse. Vinde e vede o lugar em que ele repousou.
Ide depressa e dizei aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos. Ele vos precede na Galileia. Lá o haveis de rever, eu vo-lo disse”.
Elas se afastaram prontamente do túmulo com certo receio, mas ao mesmo tempo com alegria, e correram a dar a Boa-Nova aos discípulos.
Nesse momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: “Salve!”. Aproximaram-se elas e, prostradas diante dele, beijaram-lhe os pés.
*
A adoração a Jesus pelos discípulos reforça sua divindade. O gesto de abraçar os pés era reservado a divindades e reis no Oriente Médio antigo.
Disse-lhes Jesus: “Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galileia, pois é lá que eles me verão”.
Enquanto elas voltavam, alguns homens da guarda já estavam na cidade para anunciar o acontecimento aos príncipes dos sacerdotes.
*
Esta conspiração para esconder a ressurreição reflete conflitos históricos entre primeiros cristãos e autoridades judaicas. Flávio Josefo (Antiguidades 18.3.3) menciona tensões semelhantes no século I.
Reuniram-se estes em conselho com os anciãos. Deram aos soldados uma importante soma de dinheiro, ordenando-lhes:
“Vós direis que seus discípulos vieram retirá-lo à noite, enquanto dormíeis.
*
A acusação de roubo do corpo aparece no 'Toledoth Yeshu', texto judaico medieval, mostrando como a polêmica perdurou por séculos.
Se o governador vier a sabê-lo, nós o acalmaremos e vos tiraremos de dificuldades”.
Os soldados receberam o dinheiro e seguiram suas instruções. E essa versão é ainda hoje espalhada entre os judeus.
Os onze discípulos foram para a Galileia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado.
Quando o viram, adoraram-no; entretanto, alguns hesitavam ain­da.
*
A dúvida de alguns discípulos é um detalhe embaraçoso que reforça a credibilidade do relato - autores antigos normalmente omitiriam tal informação.
Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.
Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
*
A fórmula trinitária ('Pai, Filho e Espírito Santo') é crucial para a doutrina da Trindade. Alguns estudiosos questionam sua originalidade, pois não aparece em outras partes dos evangelhos, mas está presente nos principais manuscritos.
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
*
A promessa 'estou convosco' ecoa Emanuel ('Deus conosco') de mt1:23, fechando o círculo teológico do evangelho.