Mateus 15
Alguns fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com Jesus e lhe disseram: 
“Por que transgridem teus discípulos a tradição dos antigos? Nem mesmo lavam as mãos antes de comer”. 
Jesus respondeu-lhes: “E vós, por que violais os preceitos de Deus, por causa de vossa tradição? 
Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte ( Ex 20,12 ; 21,17). 
Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: ‘aquilo com que eu vos poderia assistir já ofereci a Deus’, 
esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a Palavra de Deus. 
Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías: 
Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens!”. ( Is 29,13 ). 
Depois, reuniu os assistentes e disse-lhes: 
“Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem”. 
Então, se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe: “Sabes que os fariseus se escandalizaram com as palavras que ouviram?”. 
Jesus respondeu: “Toda planta que meu Pai celeste não plantou será arrancada pela raiz. 
Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão ambos na mesma vala”. 
Tomando então a palavra, Pedro disse: “Explica-nos esta parábola”. 
Jesus respondeu: “Sois também vós de tão pouca compreensão? 
Não compreendeis que tudo o que entra pela boca vai ao ventre e depois é lançado num lugar secreto? 
“Ao contrário, aquilo que sai da boca provém do coração, e é isso o que mancha o homem. 
Porque é do coração que provêm os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias. 
Eis o que mancha o homem. Comer, porém, sem ter lavado as mãos, isso não mancha o homem”. 
Jesus partiu dali e retirou-se para os arredores de Tiro e Sidônia. 
E eis que uma cananeia, originária daquela terra, gritava: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio”. 
Jesus não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos vieram a ele e lhe disseram com insistência: “Despede-a, ela nos persegue com seus gritos”. 
Mas aquela mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: “Senhor, ajuda-me!”. 
“Certamente, Senhor, replicou-lhe ela; mas os cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos...”. 
Disse-lhe, então, Jesus: “Ó mulher, grande é tua fé! Seja-te feito como desejas”. E na mesma hora sua filha ficou curada. 
Jesus saiu daquela região e voltou para perto do mar da Galileia. Subiu a uma colina e sentou-se ali. 
Então numerosa multidão aproximou-se dele, trazendo consigo mudos, cegos, coxos, aleijados e muitos outros enfermos. Puseram-nos aos seus pés e ele os curou, 
de sorte que o povo estava admirado ante o espetáculo dos mudos que falavam, daqueles aleijados curados, de coxos que andavam, dos cegos que viam; e glorificavam ao Deus de Israel. 
Jesus, porém, reuniu os seus discípulos e disse-lhes: “Tenho piedade desta multidão: eis que há três dias está perto de mim e não tem nada para comer. Não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho”. 
Disseram-lhe os discípulos: “De que maneira procuraremos neste lugar deserto pão bastante para saciar tal multidão?”. 
Pergunta-lhes Jesus: “Quantos pães tendes?”. “Sete, e alguns peixinhos” – responderam eles. 
Mandou, então, a multidão assentar-se no chão, 
tomou os sete pães e os peixes e abençoou-os. Depois os partiu e os deu aos discípulos, que os distribuíram à multidão. 
Todos comeram e ficaram saciados, e, dos pedaços que restaram, encheram sete cestos. 
Ora, os que se alimentaram foram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças. 
Jesus então despediu o povo, subiu para a barca e retornou à região de Magadã.