Marcos 10
Saindo dali, ele foi para a região da Judeia, além do Jordão. As multidões voltaram a segui-lo pelo caminho e de novo ele pôs-se a ensiná-las, como era seu costume. 
Chegaram os fariseus e perguntaram-lhe, para o pôr à prova, se era permitido ao homem repudiar sua mulher. 
Ele respondeu-lhes: “Que vos ordenou Moisés?”. 
Eles responderam: “Moisés permitiu escrever carta de divórcio e despedir a mulher”. 
Por isso, deixará o homem pai e mãe e se unirá à sua mulher; 
e os dois não serão senão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. 
Não separe, pois, o homem o que Deus uniu”. 
Em casa, os discípulos fizeram-lhe perguntas sobre o mesmo assunto. 
E ele disse-lhes: “Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. 
E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério”. (= Mt 19,13 ss = Lc 18,15 ss) 
Apresentaram-lhe então crianças para que as tocasse; mas os discípulos repreendiam os que as apresentavam. 
Vendo-o, Jesus indignou-se e disse-lhes: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. 
Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará”. 
Em seguida, ele as abraçou e as abençoou, impondo-lhes as mãos. (= Mt 19,16-29 = Lc 18,18-30 ) 
Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: “Bom Mestre, que farei para alcançar a vida eterna?”. 
Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”. 
Ele respondeu-lhe: “Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha mocidade”. 
Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: “Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me”. 
Ele entristeceu-se com essas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens. 
E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: “Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!”. 
Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: “Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas! 
Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: “Quem pode então salvar-se?”. 
Olhando Jesus para eles, disse: “Aos homens isso é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível”. 
Pedro começou a dizer-lhe: “Eis que deixamos tudo e te seguimos”. 
Respondeu-lhe Jesus: “Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho 
que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições – e no século vindouro a vida eterna. 
Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros”. (= Mt 20,17 ss = Lc 18,31-34 ) 
Estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Estavam perturbados e o seguiam com medo. E tomando novamente a si os Doze, começou a predizer-lhes as coisas que lhe haviam de acontecer: 
“Eis que subimos a Jerusalém e o Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas; irão condená-lo à morte e será entregue aos gentios. 
Escarnecerão dele, cuspirão nele, irão açoitá-lo e hão de matá-lo; mas ao terceiro dia ele ressurgirá”. (= Mt 20,20-28 = Lc 22,24-30 ) 
Aproximaram-se de Jesus Tiago e João, filhos de Zebedeu, e disseram-lhe: “Mestre, queremos que nos concedas tudo o que te pedirmos” –. 
“Que quereis que vos faça?” – 
“Concede-nos que nos sentemos na tua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda.” 
– “Não sabeis o que pedis – retorquiu Jesus –. Podeis vós beber o cálice que eu vou beber, ou ser batizados no batismo em que eu vou ser batizado?”* – 
“Podemos” – asseguraram eles. Jesus prosseguiu: “Vós bebereis o cálice que eu devo beber e sereis batizados no batismo em que eu devo ser batizado. 
Mas, quanto a assentardes à minha direita ou à minha esquerda, isto não depende de mim: o lugar compete àqueles a quem está destinado”. 
Ouvindo isso, os outros dez começaram a indignar-se contra Tiago e João. 
Jesus chamou-os e deu-lhes esta lição: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações dominam sobre elas e os seus intendentes exercem poder sobre elas. 
Entre vós, porém, não será assim: todo o que quiser tornar-se grande entre vós, seja o vosso servo; 
e todo o que entre vós quiser ser o primeiro, seja escravo de todos. 
Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção por muitos”. (= Mt 20,29-34 = Lc 18,35-43 ) 
Chegaram a Jericó. Ao sair dali Jesus, seus discípulos e numerosa multidão, estava sentado à beira do caminho, mendigando, Bartimeu, que era cego, filho de Timeu. 
Muitos o repreendiam, para que se calasse, mas ele gritava ainda mais alto: “Filho de Davi, tem compaixão de mim!”. 
Jesus parou e disse: “Chamai-o”. Chamaram o cego, dizendo-lhe: “Coragem! Levanta-te, ele te chama”. 
Lançando fora a capa, o cego ergueu-se de um salto e foi ter com ele. 
Jesus, tomando a palavra, perguntou-lhe: “Que queres que te faça?” “Rabôni” –, respondeu-lhe o cego – “que eu veja!”.  
Jesus disse-lhe: “Vai, a tua fé te salvou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. (= Mt 21,1-11 = Lc 19,29-40 = Jo 12,12-19 )