Lucas 15

Aproximavam-se de Jesus os publicanos e os pecadores para ouvi-lo.
Os fariseus e os escribas murmuravam: “Este homem recebe e come com pessoas de má vida!”.
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Fariseus e escribas eram grupos religiosos que valorizavam rigorosamente a lei judaica. Sua crítica a Jesus por comer com 'pecadores' reflete conflitos culturais da época sobre pureza ritual e associações sociais.
Então, lhes propôs a seguinte parábola:
“Quem de vós que, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?
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A parábola da ovelha perdida ecoa Ezequiel 34:11-16, onde Deus busca suas ovelhas. Deixar 99 ovelhas no deserto parece arriscado, mas enfatiza o valor incomparável de cada indivíduo para Deus.
E, depois de encontrá-la, a põe nos ombros, cheio de júbilo,
e, voltando para casa, reúne os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Regozijai-vos comigo, achei a minha ovelha que se havia perdido.
Digo-vos que assim have­rá maior júbilo no céu por um só pecador que fizer penitência do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento”.
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A alegria no céu por um pecador que se arrepende contrasta com a mentalidade farisaica. A frase 'justos que não necessitam de arrependimento' é irônica, já que todos precisam de conversão (Lc 5:32).
“Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas e, perdendo uma delas, não acende a lâmpada, varre a casa e a busca diligentemente, até encontrá-la?
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Uma dracma equivalia a um dia de salário. A busca intensa pela moeda perdida pode aludir a dotes matrimoniais, cuja perda traria desonra à família.
E tendo-a encontrado, reúne as amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, achei a dracma que tinha perdido.
Digo-vos que haverá júbilo entre os anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.”
Disse também: “Um homem tinha dois filhos.
O mais moço disse a seu pai: Meu pai, dá-me a parte da herança que me toca. O pai então repartiu entre eles os haveres.
Poucos dias depois, ajuntando tudo o que lhe pertencia, partiu o filho mais moço para um país muito distante, e lá dissipou a sua fortuna, vivendo dissolutamente.
Depois de ter esbanjado tudo, sobreveio àquela região uma grande fome e ele começou a passar penúria.
Foi pôr-se a serviço de um dos habitantes daquela região, que o mandou para os seus campos guardar os porcos.
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Apascentar porcos era um ultraje para judeus, pois o animal era considerado impuro (Lv 11:7). O emprego do filho ilustra sua degradação social e religiosa.
Desejava ele fartar-se das vagens que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava.
Entrou então em si e refletiu: Quantos empregados há na casa de meu pai que têm pão em abundância... e eu, aqui, estou a morrer de fome!
Vou me levantar e irei a meu pai, e lhe direi: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.
Levantou-se, pois, e foi ter com seu pai. Estava ainda longe, quando seu pai o viu e, movido de compaixão, correu-lhe ao encontro, o abraçou e o beijou.
O filho lhe disse, então: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
Mas o pai falou aos servos: Trazei-me depressa a melhor veste e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçado nos pés.
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A roupa, o anel e as sandálias simbolizam restauração da filiação: o manto representava honra, o anel autoridade familiar, e as sandálias diferenciavam homens livres de escravos (que andavam descalços).
Trazei também um novilho gordo e matai-o; comamos e façamos uma festa.
Este meu filho estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado. E começaram a festa.
O filho mais velho estava no campo. Ao voltar e aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um servo e perguntou-lhe o que havia.
Ele lhe explicou: Voltou teu irmão. E teu pai mandou matar um novilho gordo, porque o reencontrou são e salvo.
Encolerizou-se ele e não queria entrar, mas seu pai saiu e insistiu com ele.
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A reação do irmão mais velho reflete a postura dos fariseus: priorizam méritos pessoais sobre a graça. Sua queixa ('nunca me deste um cabrito') contrasta com o bezerro cevado do pai, mostrando incompreensão da generosidade divina.
Ele, então, respondeu ao pai: Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir ordem alguma tua, e nunca me deste um cabrito para festejar com os meus amigos.
E agora, que voltou este teu filho, que gastou os teus bens com as meretrizes, logo lhe mandaste matar um novilho gordo!
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O filho mais velho acusa o irmão de gastos com prostitutas, embora o texto só mencione 'vida dissoluta' (v.13). Isso revela seu julgamento precipitado e ressentimento.
Explicou-lhe o pai: Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu.
Convinha, porém, fazermos festa, pois este teu irmão estava morto, e reviveu; tinha se perdido, e foi achado”.
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A expressão 'estava morto e reviveu' remete à visão judaica de excomunhão espiritual. A celebração antecipa o tema da ressurreição de Cristo.