Jó 11

Então, Sofar de Naamat tomou a palavra nestes termos:
“Ficará sem resposta o que fala muito? Terá razão o grande falador?
Tua loquacidade fará calar os demais? Zombarás sem que ninguém te repreenda?
Dizes: ‘Minha opinião é a verdadeira, sou puro aos teus olhos’.
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Zofar acusa Jó de autojustiça, refletindo a visão dos amigos de que o sofrimento é sempre consequência do pecado. Essa teologia da retribuição será questionada por Deus no final do livro (jó42:7).
Oxalá Deus pudesse falar e abrir seus lábios para te responder.
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A expressão 'Deus exige de ti menos do que merece' varia em traduções: algumas versões trazem 'Deus cobra menos que sua culpa merece'. A 'sabedoria multíplice' (hebraico 'tushiyyah') tem traduções variadas: 'sabedoria eficaz' (NVI) ou 'sabedoria plena' (ARC).
Se te revelasse os mistérios da sabedoria, que são ambíguos para o espírito, saberias então que Deus esquece uma parte de tua iniquidade.
Pretendes sondar as profundezas divinas, atingir a perfeição do Todo-poderoso?
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A inescrutabilidade da sabedoria divina é tema comum na Bíblia (is55:8-9, rm11:33-34). A comparação com as alturas dos céus e profundezas do Sheol reforça a transcendência de Deus.
Ela é mais alta do que o céu! Que podes tu fazer? É mais profunda que os infernos! Que podes tu saber?
É mais longa que a terra, mais larga que o mar.
Se ele surge para aprisionar, se apela à justiça, quem o impedirá?
Pois ele conhece os malfeitores, descobre a iniquidade, presta atenção.
Diante disso, uma pessoa insensata pode criar juízo, e um asno tornar-se criatura humana.
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A comparação do homem com 'cria do jumento montês' usa um animal selvagem como símbolo de insensatez. Os asnos selvagens eram comuns no Oriente Médio antigo, citados em registros mesopotâmicos como símbolos de liberdade e indisciplina.
Se voltares teu coração para Deus, e para ele estenderes os braços;
se afastares de tuas mãos o mal e não abrigares a iniquidade debaixo de tua tenda,
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O apelo à purificação moral antecipa ensinos do NT (tg4:8). A expressão 'não deixes habitar a injustiça' ecoa a linguagem de salmos sobre integridade (sl15:2).
então poderás erguer a fronte sem mancha; serás estável, sem mais nenhum temor.
Esquecerás daí por diante as tuas penas, como águas que passaram, serão apenas uma lembrança.
O futuro te será mais brilhante do que o meio-dia, as trevas se transformarão em aurora.
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A promessa de restauração ('clara como o meio-dia') contrasta com a realidade de Jó. Zofar usa retórica convencional da sabedoria tradicional, similar a promessas condicionais em dt28:1-14.
Terás confiança e ficarás cheio de esperança. Olhando em volta de ti, dormirás tranquilo.
Repousarás sem que ninguém te inquiete e muitos acariciarão o teu rosto.
Porém, os olhos dos maus serão consumidos, para eles, nenhum refúgio, e não terão outra esperança senão em seu último suspiro”.
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A descrição do destino dos ímpios segue padrão da literatura sapiencial (pv10:28, sl37:38). Porém, o próprio livro questiona essa visão simplista através do sofrimento de Jó, um justo.