Judite 15

Quando todo o exército soube que Holofernes tinha sido decapitado, perdeu a razão e o conselho. Agitados pelo espanto e pelo terror, buscaram a salvação na fuga.
Sem trocar uma palavra se­quer com o seu vizinho, com a cabeça baixa, deixando tudo, fugiram pelas planícies e pelos montes, procurando escapar aos he­breus, pois ouviam que vinham armados so­bre eles.
Os israelitas, vendo-os fugir, perseguiram-nos. Desceram as encostas atrás deles tocando a trombeta e sol­tando grandes gritos.
E como os assírios iam fugindo desordenadamente, os israelitas que os perseguiam juntos, formados em batalhão, destroçavam todos os que podiam atingir.
Ozias mandou mensageiros a todas as cidades e províncias de Israel.
*
A menção de ataques até Damasco é anacrônica: o Império Assírio (inimigo na narrativa) já havia caído ante os babilônios no século VII a.C., enquanto Damasco só ganhou destaque posteriormente. Isso sugere que o livro mescla contextos históricos diferentes.A participação de Galaad e Galileia reforça o caráter simbólico da vitória, unindo regiões tradicionalmente separadas (transjordânia e norte de Israel).
Assim, cada localidade e cada cidade armou o melhor de sua juventude e a enviou contra os assírios e perseguiram-nos à ponta de espada até a sua fronteira mais afastada.
Entretanto, os que tinham ficado em Betú­lia, entraram no acampamento dos assírios e levaram um enorme despojo deixado pelo inimigo em sua fuga.
Enfim, aqueles que voltaram vitoriosos para Betúlia, trouxeram consigo tudo o que pertencera aos as­sírios, um numeroso rebanho, grande quan­tidade de material e de animais de carga; e assim todos, desde o maior até o menor, se enriqueceram com seus despojos.
*
Joaquim é citado como sumo sacerdote, mas não há registros históricos extra-bíblicos desse nome no contexto assírio. Isso alimenta debates sobre a historicidade do livro: para alguns, é uma ficção devocional; para outros, uma narrativa com elementos simbólicos.
Veio então de Jerusalém a Betúlia o sumo sacerdote Joaquim com todos os an­ciãos para ver Judite.
Quando ela lhes veio ao encontro, abençoaram-na todos a uma só voz, dizendo: “Tu és a glória de Jerusalém, tu és a alegria de Israel, tu és a honra de nosso povo.
Deste prova de alma viril e coração valente. Amaste a castidade e não quiseste, depois da morte do teu marido, conhecer outro homem. Então, o Senhor te fortaleceu e por isso serás eternamente bendita”.
Ao que todo o povo respondeu: “Assim seja! Assim seja!”.
Trinta dias mal bastaram ao povo de Israel para recolher os despojos dos assírios.
Tudo o que se soube ter pertencido a Holofernes, o povo deu-o a Ju­dite: ouro, prata, vestes, pedras preciosas e outros objetos.
*
O cântico de Judite ecoa a tradição de mulheres celebrando vitórias militares, como Miriã (êxodo 15:20-21) e Débora (juízes 5:1-31). Essa conexão reforça Judite como figura profética na tradição judaica.
Todo o povo entregou-se a grandes festas, com as mulheres, com as jovens e com os jovens, ao som de harpas e cítaras.