2 Coríntios 5

Sabemos, com efeito, que ao se desfazer a tenda que habi­tamos neste mundo, recebemos uma casa preparada por Deus e não por mãos humanas, uma habitação eterna no céu.
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Paulo usa a metáfora do 'tabernáculo' (tenda temporária) para contrastar o corpo físico com a realidade eterna. A 'casa não feita por mãos' refere-se ao corpo glorificado, tema também desenvolvido em 1 Coríntios 15 sobre a ressurreição.
E por isso suspiramos e anelamos ser sobrevestidos da nossa habitação celeste,
contanto que sejamos achados vestidos e não despidos.
Pois, enquanto permanecemos nesta tenda, gememos oprimidos: desejamos ser não despojados, mas revestidos de uma veste nova por cima da outra, de modo que o que há de mortal em nós seja absorvido pela vida.
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O desejo de não ser 'despidos' (morte sem ressurreição) mas 'revestidos' (corpo glorificado) reflete a esperança cristã na transformação final, não na imortalidade da alma. Isso corrige interpretações gregas de imaterialidade pós-morte.
Aquele que nos formou para este destino é Deus mesmo, que nos deu por penhor o seu Espírito.
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O 'penhor do Espírito' indica que o Espírito Santo é garantia da realização plena das promessas divinas. Em Efésios 1:13-14, essa ideia é expandida como 'selo' e 'penhor'.
Por isso, estamos sempre cheios de confian­ça. Sabemos que todo o tempo que passamos no corpo é um exílio longe do Senhor.
Andamos na fé e não na visão.
Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor.
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A ideia de 'deixar o corpo para habitar com o Senhor' gerou debates: alguns interpretam como consciência imediata após a morte; outros entendem como estado intermediário até a ressurreição. Filipenses 1:23 apoia a primeira visão.
É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe.
Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo.
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O 'tribunal de Cristo' (Bema) refere-se à avaliação das obras dos crentes, não à condenação. Difere do Juízo Final em Apocalipse 20:11-15. A tensão entre salvação por fé (Ef 2:8-9) e julgamento por obras é resolvida em 1 Coríntios 3:12-15.
Compenetrados do temor do Senhor, procuramos persuadir os homens. Estamos a descoberto aos o­lhos de Deus, e espero que o estejamos também ante as vossas consciências.
Não estamos a gabar-nos ante os vossos olhos, mas damo-vos ocasião de vos gloriardes por nossa causa. Tereis assim o que responder àqueles que se prevalecem das aparências e não do que há no coração.
De fato, se ficamos arrebatados fora dos sentidos, é por Deus; e, se racio­cinamos sobriamente, é por vós.
O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram.
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'Um morreu por todos' é base da doutrina da expiação vicária. A frase 'todos morreram' pode significar que a morte de Cristo anulou a condição pecaminosa da humanidade (Romanos 5:15-19) ou que os crentes morrem para o pecado (Romanos 6:2).
Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu.
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A ressurreição de Cristo é apresentada como fundamento da nova vida ética, não apenas evento teológico. Isso refuta visões gnósticas que separavam salvação espiritual da prática moral.
Por isso, nós daqui em diante a ninguém conhecemos de um modo humano. Muito embora tenhamos considerado Cristo dessa maneira, agora já não o julgamos assim.
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'Conhecer Cristo segundo a carne' pode referir-se à visão pré-conversão de Jesus como mestre humano. Após a revelação do Cristo ressurreto (Atos 9:3-5), essa perspectiva é superada.
Todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!
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'Nova criatura' (kainē ktisis) é termo técnico para transformação radical na conversão. Em manuscritos ocidentais aparece como 'nova criação', enfatizando o aspecto cósmico (Gálatas 6:15).
Tudo isso vem de Deus, que nos reconciliou consigo, por Cristo, e nos confiou o ministério dessa reconciliação.
Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando mais em conta os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação.
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A reconciliação é apresentada como iniciativa divina ('Deus estava em Cristo'), contrariando visões que enfatizam sacrifício humano. O termo 'não imputar pecados' ecoa Salmo 32:2, realizado plenamente em Cristo.
Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por nosso intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!
Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus.
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Cristo 'feito pecado' (hamartian epoiēsen) é um dos textos mais debatidos: 1) Cristo tornou-se oferta pelo pecado (Isaías 53:10 LXX); 2) Sofreu consequências do pecado; 3) Identificou-se com a condição humana pecaminosa sem pecar (Hebreus 4:15).