Jó 27

Jó descreve a sorte dos perversos

Prosseguindo Jó em seu discurso, disse:
Tão certo como vive Deus, que me tirou o direito, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma,
enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos meus narizes,
nunca os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano.
Longe de mim que eu vos dê razão! Até que eu expire, nunca afastarei de mim a minha integridade.
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Jó afirma sua integridade mesmo diante do sofrimento, desafiando a visão tradicional de que o sofrimento é sempre consequência do pecado. Isso reflete o tema central do livro: a complexidade da relação entre justiça divina e o mal.
À minha justiça me apegarei e não a largarei; não me reprova a minha consciência por qualquer dia da minha vida.
Seja como o perverso o meu inimigo, e o que se levantar contra mim, como o injusto.
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A comparação do inimigo com 'ímpio' e 'perverso' ecoa a linguagem dos salmos de imprecação (ex.: sl35), mas aqui Jó usa retoricamente para defender sua inocência, invertendo a acusação dos amigos.
Porque qual será a esperança do ímpio, quando lhe for cortada a vida, quando Deus lhe arrancar a alma?
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A questão da 'esperança do hipócrita' relaciona-se com Provérbios 11:7 sobre a falsa segurança dos maus. A menção de Deus 'arrancar a alma' sugere juízo final, tema desenvolvido no NT (hb9:27).
Acaso, ouvirá Deus o seu clamor, em lhe sobrevindo a tribulação?
Deleitar-se-á o perverso no Todo-Poderoso e invocará a Deus em todo o tempo?
Ensinar-vos-ei o que encerra a mão de Deus e não vos ocultarei o que está com o Todo-Poderoso.
Eis que todos vós já vistes isso; por que, pois, alimentais vãs noções?
Eis qual será da parte de Deus a porção do perverso e a herança que os opressores receberão do Todo-Poderoso:
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Esta descrição do destino dos ímpios (perda de bens, família e honra) contradiz a situação de Jó, criando tensão literária. Alguns estudiosos sugerem que este discurso pertenceria originalmente a Sofar (cap.20), adaptado posteriormente.
Se os seus filhos se multiplicarem, será para a espada, e a sua prole não se fartará de pão.
Os que ficarem dela, a peste os enterrará, e as suas viúvas não chorarão.
Se o perverso amontoar prata como pó e acumular vestes como barro,
ele os acumulará, mas o justo é que os vestirá, e o inocente repartirá a prata.
Ele edifica a sua casa como a da traça e como a choça que o vigia constrói.
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A imagem da casa frágil como 'traça' encontra paralelo em Isaías 51:8. Arqueologicamente, casas temporárias de guardas de campos eram comuns na Palestina antiga, usando materiais perecíveis.
Rico se deita com a sua riqueza, abre os seus olhos e já não a vê.
Pavores se apoderam dele como inundação, de noite a tempestade o arrebata.
O vento oriental o leva, e ele se vai; varre-o com ímpeto do seu lugar.
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O 'vento oriental' (siroco) era temido por destruir plantações (Ez 17:10). Em 2020, escavações em Tell Tayinat (Turquia) encontraram registros de tempestades destrutivas similares em textos antigos.
Deus lança isto sobre ele e não o poupa, a ele que procura fugir precipitadamente da sua mão;
à sua queda lhe batem palmas, à saída o apupam com assobios.